Há quem julgue seja a brandura ausência de firmeza no caráter, quando a realidade não é assim.
Serenidade é entendimento e visão.
Água branda vence a pedra rija, por outro lado, o cais parado e silencioso contém o oceano que se move, terrível, na maré alta.
Em contraposição, temos a violência e a precipitação que suscitam complicações e agravam problemas.
O resto da história dos impulsivos, muitas vezes, é narrado por seus próprios personagens, nas penitenciárias onde se recolhem os náufragos que não desapareceram nos sinistros da delinquência.
O epílogo das biografias que se referem aos imprudentes é contado por eles mesmos, quase sempre, nos manicômios, quando não sucumbem nos desastres orgânicos que atraem.
Isso acontece, porque a irritabilidade compra cólera, a qualquer preço, na sucata das tendências inferiores que trazemos de vidas passadas, convertendo-a em projétil fulminativo, e a impaciência adquire aversões, onde aparece, incapaz de atender às sinalizações morais no trânsito da experiência, atropelando corações que se afastam, acidentados.
Brandura é a faculdade de recolher dificuldades extraindo-lhes o ensinamento e aceitar os calhaus que se lhe atiram para transformá-los em material valioso de construção íntima.
Ser brando não quer dizer que a pessoa se forre ao perigo em processo de fuga. Muito ao contrário, os espíritos brandos permanecem tranquilos nas grandes perturbações como quem veste amianto em hora de incêndio, visando a apagar o fogo.
As criaturas serenas agem com reflexão e tolerância, sofrem sem reclamar e suportam pancadas por amor à paz dos outros e, sobretudo, sabem aguardar o tempo claro para examinar os enigmas que se lhes apresentam nos dias de sombra, sem a mínima intenção de se sobreporem ao interesse geral.
À face dessas razões é que Jesus considerou bem-aventurados os brandos de coração. Eles possuem a vida mais longa e os melhores recursos da Terra por saberem cultivar benignidade, esperança, paciência e cordura.
Quem aspire a colher esclarecimento mais vivo, observe a tempestade. Raios ribombam no espaço e tufões estraçalham a galharia, casas se destelham e raízes se desentranham, mas passado o frenesi dos elementos convulsionados, permanecem, invariáveis, a suavidade do ar puro e a calma do céu.
André Luiz/Waldo Vieira " Sol nas Almas "
Deixe seu comentário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário