Olá,
28 — 1 —1948
“(...) Estava preocupado por haver o livro do Irmão X seguido via postal, mas a tua nota telegráfica me tranquilizou.
Pedi ao Quintão fizesse a entrega de outra via logo termine a leitura.
O trabalho Fígner prossegue.
(...) O que ele me vem relatando sobre a luz espiritual de cada discípulo do Evangelho me impressiona bastante.
(...)
O Sondermann, mesmo licenciado, tem procurado a FEB?
Do que houver com a “mesa-redonda”, espero-te os informes.
(...)
Vou sonhando (...) com a possibilidade de recebermos um novo trabalho para as crianças, de molde a ser publicado sem os desenhos e sem grande serviço a cores, que possa ser vendido sem as reclamações que te feriram o nobre esforço. Poder satisfazer, de algum modo, aos instrumentos dos nossos inimigos gratuitos da esfera invisível, é uma felicidade.
(...)
Agradeço ao I. Pequeno a opinião que formou a meu respeito. Não a mereço, podes crer. E antes que o amigo querido modifique o parecer, eu mesmo vou procurando reajustar-lhe as impressões.
(...) Como vai o Ismael?
(...) Grato pelas notícias do Zeus.
(...)”
O novo livro, mencionado inicialmente, do Irmão X, é o “Luz Acima”.
Referindo-se ao trabalho de Fred Fígner, que vinha psicografando havia algum
tempo, Chico ressalta que está impressionado com o relato que ali se faz sobre a iluminação interior de cada discípulo do Evangelho.
Conforme já foi dito, o livro recebeu o título “Voltei”, e é interessante e instrutivo depoimento de um espírita acerca da morte e as surpresas de uma nova vida no plano espiritual. O trecho referido pelo Chico é aquele em que Fígner narra a sua decepção por se notar sem qualquer recurso de claridade interior e o seu encontro definitivo com essa verdade.
Os capítulos 15 a 19 tratam especificamente desse assunto, evidenciando todo o comovente esforço de Fígner para adquirir a imprescindível iluminação íntima.
Essa obra de Fred Fígner visa essencialmente a demonstrar as dificuldades encontradas, na esfera extrafísica, por aqueles que, conhecedores da verdade e proclamando-se espíritas, não conseguiram vivenciar totalmente os princípios do Espiritismo.
É oportuna advertência, apresentada corajosamente pelo autor, que não se furta a narrar as próprias fraquezas, os enganos cometidos durante a existência terrena na qual, por ser espírita, julgava-se em condições espirituais privilegiadas.
Diante da amarga realidade, Fígner termina o capítulo, dizendo:
“A claridade dos outros acentuara-me a obscuridade.
Minha inquietação característica centralizara-se. — Por que avançar no conhecimento cerebral, de alma às escuras? Cabia-me mudar de rumo.
Na realidade, fora agraciado pela benevolência de muitos amigos que me rodeavam o espírito de atenção e ternura, mas nos recessos de meu ser jaziam os sinais de minha inadaptação ao Reino do Senhor que eu ambicionava servir; antes de estendê-lo aos outros, tornava-se indispensável construí-lo dentro de mim. Embora a beleza inesquecível daquela noite de amor, as graças recebidas confirmavam-me, no fundo, as primeiras impressões de que eu não passava de um mendigo de luz.”
Chico menciona ainda o seu anseio de receber um livro novo para as crianças, que pudesse ser publicado sem as ilustrações coloridas e por um preço acessível.
Nesse trecho, Chico tem uma frase que se destaca:
“Poder satisfazer, de algum modo, aos instrumentos dos nossos inimigos gratuitos da esfera invisível é uma felicidade.”
Uma felicidade que bem poucos podem entender e raros conseguem alcançar.
Agradar não apenas aos amigos e afetos.
Perdoar os que ofendem e caluniam. Suportar, tolerar, entender e por fim amar —
este o caminho a ser percorrido. Esse o aprendizado essencial através de caminhos que o amor vai desvendando, descobrindo e inventando.
O amor inventa processos novos de amar, no seu sentido mais sublime e transcendente.
Chico vai inventando meios de agradar aos inimigos gratuitos e se diz em plena felicidade porque consegue atender aos seus reclamos.
A própria felicidade, no âmbito desse amor que transcende ao entendimento comum, assume outros feitios e tem nuanças novas que repletam a alma, engrandecendo-a.
Joanna de Ângelis, com seu coração amorável, interpreta em perfeita síntese essa felicidade que Chico Xavier alcançou:
“A maior felicidade no amor pertence a quem ama.”
No final da carta, Chico refere-se a um artigo de I. Pequeno, um dos pseudônimos de Wantuil.
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