segunda-feira, 22 de junho de 2015

Evangelho - Razão e Fé

Olá,

E disse-lhe: Sai da tua terra e da tua parentela, e vem para a terra que eu te mostrarei."


Merece consideração a passagem em epígrafe, relembrada pelo jovem Estevão — primeiro Mártir do Cristianismo — ao comparecer ante o Sinédrio, o poderoso tribunal israelita.
 Sublinhemos as palavras tua terra — tua parentela e, por fim, a terra que eu te mostrarei.
Meditemos, pois.
O patriarca Abraão vivia, na terra dos Caldeus, atento às atividades normais e rotineiras do campo, cuidando de seus rebanhos de ovelhas, bois e jumentos. Vivia preso à sua terra, vinculado à sua parentela. Era, por conseguinte, um homem circunscrito, limitado em seus objetivos, confinado em suas aspirações.
O Senhor, pela voz de Poderosas Entidades que se comunicavam pela voz direta — pneumatofonia, retira-o da Mesopotâmia para cumprimento, junto ao heróico povo hebreu, de elevada missão fraternista.
 Retira-o de sua terra, de sua parentela, de sua família, para confiar-lhe uma família maior, numerosa descendência, incontável como as estrelas: “Olha para o céu, e conta, se podes, as estrelas.”
Depois, acrescentou: “Assim será a tua descendência.”
Nenhuma força transformará o Cristianismo em “uma religião” formalista, convencional, subordinada a rituais, desvitalizada.
Ninguém lhe alterará a substância, a feição universalista, abrangente, eterna, divina.
O Cristianismo não cabe numa redoma. Sendo a Religião do Amor, é, por conseguinte, a Religião Cósmica — eis que o Amor é a força que rege o Universo em todas as suas manifestações visíveis e invisíveis, objetivas e subjetivas.
Universo físico.
Universo moral.
Universo mental.
O Cristianismo nunca foi, não é, nem será, jamais, um movimento condicionado — familiar, grupal, racial. Nem mesmo planetário. A sua essência oloriza não só a Terra — mundo onde a Divina Bondade nos situou, presentemente.
Não exerce sua influência, apenas, nos orbes que gravitam em torno do Sol. O Cristianismo — Filosofia do Amor Universal — aromatiza e vivifica os bilhões de planetas que rolam no Infinito de Deus.
 O Pai Celestial, pela voz de Seus iluminados Servidores, do plano extrafísico principalmente, vem, com ternura, desde os primórdios das humanidades, procurando dilatar o nosso entendimento. Ampliar a nossa capacidade efetiva. Despertar-nos para o altruísmo. Libertar-nos, enfim, dos acanhados preconceitos de família, grupo, crença, raça.
À maneira do velho Abraão, o homem terrestre precisa deixar a sua terra, a sua parentela, e integrar-se na grande família universal.
Tão grande, tão numerosa quanto as estrelas que refulgem nas constelações distantes, que não podem ser contadas.
O homem que deixa, subjetivamente, filosoficamente, mentalmente, a sua terra, a sua parentela, não as repudia, como pode parecer. Longe disso. Estima-as com a mesma intensidade com que estima outras terras e outras gentes, porque sabe que o menor pedaço de terra e a criatura que nasceu no ponto mais distante do Globo pertencem — terra e criatura — a Deus, que é também o seu Criador. Ama-as com a mesma pureza, o mesmo carinho com que ama a terra onde nasceu e seus compatriotas.
Ama-as sem quaisquer laivos de egoísmo. Sabe que o povo mais humilde, como o mais civilizado, é filho de Deus quanto ele próprio aqui e em qualquer recanto do Universo.
 Sabe, outrossim, que o habitante de Marte ou de Júpiter também é seu irmão, membro da grande família universal.
Assim como Deus indicou a Abraão outra terra, que seria o santuário da Primeira Revelação, o Templo da Segunda também nos mostra o abençoado rumo da fraternidade, preparando-nos a Inteligência para a Sabedoria.
O Coração — para o Amor.
 A Alma Eterna — para a Luz que se não extingue.
 Estevão é bem o símbolo do homem realizado, do homem que encontrou outra terra. “... cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo.”
 “E não podiam sobrepor-se à sabedoria e ao espírito com que ele falava.”
 “Todos os que estavam assentados no Sinédrio, fitando os olhos em Estêvão, viram o seu rosto como se fosse de anjo.”
 Abraão simboliza o ontem da Humanidade, arrancada de sua terra e de sua parentela. Estevão, inundado de amor evangélico, simboliza O amanhã da Humanidade, vivendo já noutra terra.
Abraão, numa demonstração de fé — da fé que não encara a razão face a face — ergue o cutelo contra Isaac, seu amado filho, para entregá-lo em holocausto. É sem dúvida, o homem de ontem. Estevão, sentenciado à morte, apedrejado, vertendo sangue por todo o corpo, o semblante esfacelado, confia-se, ele mesmo, sereno, imperturbável, ao sacrifício. É, sem dúvida, o homem de amanhã.
O primeiro, preserva a sua vida e entrega a do próprio filho; o segundo, entrega a própria vida para salvar a de muitos.
 Estevão, fitando a Jesus, cujos olhos pousavam com amargura em Saulo,  roga compreensão para seu implacável verdugo: “Senhor, não lhe imputes este pecado.” E quando sua extremosa irmã Abigail lhe apresenta o algoz por noivo, por depositário de suas juvenis esperanças, tem forças ainda para dizer: “Cristo os abençoe... Não tenho no teu noivo um inimigo, tenho um irmão... Saulo deve ser bom e generoso; defendeu Moisés até o fim... Quando conhecer a Jesus, servi-lo-á com o mesmo fervor... Sê para ele a companheira amorosa e fiel.”
Estevão simboliza, indubitavelmente, o homem do amanhã. Guarda no peito a fé iluminada pela razão. Possui no cérebro a razão sublimada pela fé. “ ... viram o seu rosto como se fosse de anjo.”

 Martins Peralva                                                  " Estudando o Evangelho "

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