Olá,
Nenhuma criatura humana se encontra na Terra sem atravessar, vez que outra, a noite
escura da alma.
Ela se constitui de aflições inesperadas que defluem das circunstâncias existenciais e dos
desafios que devem ser enfrentados durante o périplo carnal.
Surge a condição de vivências emocionais frustrantes, nas quais o desencanto e a amargura
substituem as expectativas de alegria e de bem-aventurança.
Apresenta-se quando se esperam solidariedade e compreensão, experimentando-se, porém,
calúnias e acusações indevidas.
Problemas econômicos e circunstâncias sociais, desemprego e fracasso nas lutas sombreiam
a alma, envolvendo-a em escuridão, às vezes, aparvalhante.
O sorriso de júbilo que expressa alegria interior, repentinamente se transforma em esgar, em
consequência de incompreensões propositais, nascidas na inveja de outrem, na competição doentia
dos pigmeus morais, produzindo desespero incontido nos sentimentos antes joviais.
Normalmente, as opiniões dos outros, nem sempre favoráveis aos anseios do sentimento e
das aspirações, se convertem em terríveis pesadelos que povoam a noite escura de dor e insegurança
de quem antes caminhava pleno de alegria.
A maioria dos indivíduos experimenta emoção satisfatória, porém, quando recebe elogios,
mesmo que não correspondam à realidade.
No entanto, diante de qualquer crítica, especialmente
aquelas que não se justificam, rebela-se derrapando em desencanto e sombras interiores.
Vítimas do próprio ego, preferem a ilusão dourada à realidade.
Jesus afirmou com sabedoria que, no mundo, somente se experimenta aflição, tendo em
vista a condição moral do planeta.
No entanto, acreditando-se inatacáveis, deixam-se inquietar quando estão sob a alça de mira
da perversidade, do despeito, da inferioridade do seu próximo infeliz...
É portanto, o ego presunçoso que responde pelo sofrimento que se lhe aninha no íntimo,
quando não compensado pelos esforços desprendidos em qualquer área do comportamento
evolutivo.
Aprender a enfrentar a realidade é o dever de todo lutador honesto, especialmente quando a
serviço da causa do Bem, da Justiça, da Verdade...
Não há, por enquanto, lugar de segurança para esses lidadores, porque a psicosfera do
planeta é morbífica, impondo desassossego e sofrimento.
A insistência no reto proceder, sem a preocupação do aplauso, nem o receio da crítica
destrutiva, deve constituir meta a ser alcançada por todo aquele que se propõe à edificação do reino
de Deus entre as demais pessoas, ou às simples tarefa de reverdecer o solo dos corações
ressequidos.
A resposta da terra generosa nem sempre é imediata, e quando o labor se direciona à dos
sentimentos humanos, mais difícil faz-se o empreendimento.
O ser, em si mesmo, nunca se deve permitir aceitar ofensas por nada que venha de fora, e
essa segurança é adquirida pelo empenho de continuar fiel ao compromisso abraçado, constituindo-se
exemplo que, um dia, se tornará imitado.
Na essência de si mesmo, cada qual é o que realmente constituiu e fixou com a segurança da
consciência tranquila.
O elogio não lhe aumenta a capacidade de produzir, nem a acusação doentia lhe diminui a
grandeza pessoal.
Se o indivíduo observar o mar, notará as ondas sucessivas arrebentando-se na areia, em
contínua agitação, produzindo erosão, alterando a paisagem. No entanto, um pouco abaixo da sua
superfície, há tranquilidade e a vida estua em abundância.
Nada obstante, a cadeia alimentar se mantém naquele abismo através da incessante morte de
uns seres em favor da preservação da vida de outros.
A luta, a contínua batalha pela vida, está presente em todo lugar, mantendo a permanência
dos mais fortes, dos melhores aquinhoados, daqueles que possuem os recursos mais sofisticados
para sobreviver.
Tem sido assim desde os primórdios de quando o planeta passou a ser habitado.
A luta pela vida, na qual os espécimes mais hábeis sobreviveram, tornou-se uma das bases
para as reflexões de Charles Darwin, antes da apresentação da sua valiosa tese a respeito do
evolucionismo.
Todos os grandes missionários da humanidade atravessaram sem queixa a noite escura, nos
respectivos labores a que entregaram a existência, o que permitiu a São João da Cruz escrever o seu
magnífico livro a esse respeito.
Aquele que não consegue vencer a noite escura, dificilmente conseguirá saudar a madrugada
de luz que chega após a sombra aparentemente vencedora.
Narra uma fábula de sabor oriental, que um sábio procurava transmitir a um jovem discípulo
todo o conhecimento de que era portador.
Interrogado pelo aprendiz sobre como deveria proceder antes as surpresas dos
relacionamentos humanos, ora positivos, ora perturbadores, respondeu-lhe, propondo que fosse ao
cemitério e durante algum tempo, diante de uma tumba, elogiasse aquele que ali fora inumado.
Após executar a façanha, voltou o aluno, sendo interrogado pelo mestre a respeito de como
se portara aquele a quem entretecera considerações honrosas, e ele respondeu: - Em silêncio, não
disse nada.
- Retorna, então, à casa dos mortos – propôs novamente o guia espiritual – e acusa-o de todos os
crimes, referindo-se desrespeitosamente à sua conduta, escarnecendo-lhe a existência que teve.
O jovem assim procedeu, e logo volveu, cabisbaixo, reflexionando.
O sábio, novamente o interrogou a respeito da conduta do falecido, ao que ele respondeu,
sem entender: - Novamente nada disse.
- Desse modo – redarguiu-lhe o mestre – deves proceder.
Elogiado pela bajulação e mentiras da
sociedade, permanece inalterável, tanto quanto acusado pelo desrespeito e perversão dos coetâneos
como se estivesses morto.
Age, desse modo, sem emoção, diante dos encômios e dos vitupérios. Jesus, muitas vezes atravessou a noite escura da alma, em perfeita identificação com Deus, a
fim de espalhar a claridade sublime do Seu amor entre aqueles que o recusavam.
Em momento algum deixou-se desanimar ou sucumbir, mesmo quando as sombras
poderosas povoaram a Sua noite de amargura e de solidão, legando-nos o exemplo de que, por mais
terríveis sejam as trevas, sempre surge a luz que as dilui em ósculo contínuos de claridade.
Atravessando a tua noite escura da alma, ora e confia, trabalha e persevera, porque após a
densidade da meia-noite começa o amanhecer, mesmo sem que notes as luzes que, em breve,
dominarão o dia...
Divaldo Franco/Joanna de Ângelis " Atitudes Renovadas "
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