domingo, 1 de março de 2020

Cotidiano - A luta contra as paixões primitivas

Olá,

 Uma psicoterapia eficiente libera o paciente não só dos conflitos, mas também das paixões primitivas, que passam a ser direcionadas com equilíbrio, transformando os impulsos inferiores em emoções de harmonia. As imagens arquetípicas que emergem do inconsciente pessoal, heranças algumas dos instintos agressivos que predominam em a natureza humana, resultantes do processo antropossociopsicológico, tornam-se diluídas pela razão, em um trabalho de conscientização das suas inclinações más e imediata superação, conforme acentua Allan Kardec, o ínclito codificador do Espiritismo.
 Essas inclinações más ou tendências para atitudes primitivas, rebeldes,
perturbadoras do equilíbrio emocional e moral, são heranças e atavismos insculpidos no Self em razão da larga trajetória evolutiva, em cujo curso experienciou o primarismo das formas ancestrais, mais instinto que razão, caracterizadas pelos impulsos automáticos do que pela lógica do discernimento. Impregnando o ego com a sua carga de paixões asselvajadas, necessitam ser trabalhadas com afinco, a fim de que abandonem os alicerces do inconsciente, no qual se encontram, e possam ser dissolvidas, substituídas pelos mecanismos dos sentimentos de amor, de compaixão, de solidariedade.
 Indutoras a reações, nas diversas situações do comportamento, também respondem por vários conflitos da personalidade, que são desencadeados pelo convívio no lar, na dependência da mãe castradora, da supermãe, do pai negligente e competitivo, ou mesmo nos confrontos da sociedade, em cujo grupo o ser se encontra situado para viver e desenvolver os valores pessoais.
Nos tormentos que assaltam esse indivíduo, ele se vê constrangido a fugir, a ocultar-se dos demais, ampliando a mágoa contra a sociedade e contra ele próprio, ampliando os sentimentos de amargura, de frustração e de rejeição, assim tornando-se agressivo, medroso e temperamental.
Alguns transtornos depressivos podem desenvolver-se nessa oportunidade, como resultado desses eventos de vida, que são assimilados pela natureza animal, desbordando em traumas e melancolias prenunciadores de distúrbios na área da afetividade.
A medida que o ego se faz consciente dos valores ínsitos no Self, torna-se factível uma programação saudável para o comportamento, trabalhando cada dificuldade, todo desafio, mediante a reconciliação com a sua realidade eterna.
Os fenômenos que parecem obstar o processo de maturação psicológica cedem lugar aos estímulos pelas conquistas que se operam, emulando a novas realizações edificantes que enriquecem de alegria os relacionamentos familiares, sociais e humanos em geral. É uma forma de o paciente desencarcerar-se dos impulsos perniciosos, que somente contribuem para asselvajar--Ihe os sentimentos e emparedar-lhe as aspirações no estreito espaço das ambições tormentosas.
Não pode a sociedade adaptar-se a cada indivíduo, em razão dos seus estatutos de comportamento considerados positivos e saudáveis. Deve o ser identificar-se com a programação da sociedade, tornando-se autêntico nos seus valores, sem escamotear projetos ou desejos, assim evitando ferir o estabelecido que constitui norma de bom-tom e de paz para todo o grupo social.
 Igualmente não é justo que assuma as características doentias da personalidade, em uma falsa necessidade de ser autêntico, antes faz-se imprescindível trabalhar essas expressões do primarismo de forma a ultrapassar a faixa dos instintos agressivos que, de alguma forma, permanecerão, porém sob outras manifestações produtoras de equilíbrio, em relação ao primarismo de forma a ultrapassar a faixa dos instintos agressivos que, de alguma forma, permanecerão, porém sob outras manifestações produtoras de equilíbrio, em relação ao estabelecido socialmente.
 Um equilibrado estado de saúde comportamental no homem sempre decorrerá da boa aceitação das ocorrências do dia a dia, tanto quanto de sentir-se incluído no grupo como membro atuante e produtivo, nada obstante as dificuldades que, de um para outro momento repontam, convidando-o à reflexão, à maturidade... A necessidade de trabalhar as tendências primárias, os instintos dominantes e primitivos, torna-se intransferível em todos os indivíduos. Todo esse patrimônio psicológico ancestral que nele permanece, constitui-lhe patamar inicial do processo para a aquisição da consciência, que não pode ser violentado, sem graves prejuízos, no que diz respeito a outras manifestações que fazem parte da realidade dos próprios instintos.
Essa batalha íntima se faz possível graças aos estímulos que decorrem dos primeiros resultados, sempre salutares, quando são vencidas as etapas iniciais da luta interna que se processa com naturalidade. Como não se podem preencher espaços ocupados, faz-se imperioso substituir cada impulso perturbador por um sentimento enobrecido, ampliando a área de compreensão da vida e disputando a harmonia no cometimento da saúde.
 Merece seja evocada, novamente aqui, a já analisada sábia proposta de Krishna ao discípulo Arjuna, conforme narrada no Bhagavad Gita, quando o primeiro lhe refere que, na sua condição de príncipe pândava terá que lutar com destemor contra os familiares do grupo kuru, mesmo que esses sejam numericamente maiores. Não obstante o jovem candidato à plenitude desejasse a paz, foi tomado de temor por considerar que lhe seria impossível combater os demais membros da sua família, gerando uma tragédia de grande porte. Ademais, ignorava onde seria essa batalha vigorosa.
O Mestre, compassivo e sábio, no entanto, admoestou-o, informando que se tratava de familiares, sim, porque procedentes da mesma raiz, mas que os pândavas eram as virtudes, enquanto os kurus eram os vícios, nesse interrelacionamento que se estreitava na causalidade dos fenômenos, mas que a vitória, sem dúvida, seria daqueles valores nobres, enquanto que a luta teria que ser travada no campo da consciência...
Esse momento do despertar da consciência para a realidade do Si, também significa a alegria de reconhecer a necessidade de libertar-se das paixões dissolventes, geradoras de tormentos, portanto, das negativas heranças do passado evolutivo.
Todo e qualquer empreendimento psicoterapêutico deve trabalhar em favor da libertação do paciente de quaisquer amarras e dependências conflitivas, tornando-o capaz de avançar vivenciando as impressões edificantes, mediante imagens arquetípicas que irão sendo insculpidas no seu inconsciente pessoal, superando aquelas que procedem do passado de perturbação e primarismo.

Joanna de Ângelis/Dival P. Franco      " Triunfo Pessola "

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