terça-feira, 3 de março de 2020

Vigilância - A supremacia do espírito

Olá,

 Pretende-se dividir o trabalho em duas categorias distintas: o trabalho intelectual e o trabalho manual.
Diz-se — intelectuais — dos homens cuja atividade se exerce no recinto de uma sala: são as chamadas — profissões liberais.
Aqueles que labutam em serviços que demandam o concurso dos músculos — nas fábricas, nas oficinas ou no campo — denominam-se operários e jornaleiros.
Em rigor essa classificação não corresponde à realidade.
Quem age é, invariavelmente, o intelecto ou inteligência, seja qual for o
ramo de atividade que o homem exerça. Os músculos são para o homem o que a ferramenta é para o operário. Ninguém diria que a trolha, o prumo e o nível constroem casas. Seria ainda maior insânia dizer que o arsenal cirúrgico realiza operações de baixa e alta .cirurgia, ou que alguns pincéis e uma palheta sejam os legítimos autores de telas e painéis que se admiram nos museus.
Não há trabalho, por mais modesto, que não reclame a ação do intelecto. E' a inteligência que dirige a pá do cantoneiro, a brocha do pintor, a garlopa do carpinteiro, a pena do escritor, o buril do estatuário, o bisturi do cirurgião.
Qualquer obra é fruto da inteligência, seja esta, seja aquela.
O homem máquina é uma aberração. As coisas simples e comezinhas requerem inteligência na execução. As obras mais rudes e materiais — como a excavação ou o nivelamento do solo — e as mais delicadas e intelectivas — como as intervenções Cirúrgicas em órgãos vitais — reclamam sempre a inteligência, e só a inteligência as pode executar tais como devem ser.
 A inteligência educada ou deseducada revela-se tanto no plano intelectual, quanto no manual ou muscular. O automatismo, na esfera humana de ação, é indício seguro de anomalia psíquica.
 O homem consciente de si mesmo, cuja dignidade despertou, jamais se movimenta como as maquinarias. Tudo quanto o homem é chamado a fazer, no cenário da vida, há de ser feito com a inteligência. Cérebro e músculos, cabeça e braços são — como, de resto, todas as demais partes do corpo — instrumentos do espírito. E o homem, digno de ser homem, sabe que ele é espírito porque tem plena consciência de que vive pela inteligência e pelo sentimento.

Vinícius       " Em torno do Mestre"

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