Olá,
15 —10 — 1946
Grato pela informação alusiva ao Ismael.
(...) Muito me reconforta a notícia
referente ao novo livro psicografado por Zilda Gama. O título “Almas Culpadas” é
muito sugestivo. Aguardarei a saída com muito interesse.
Estou impressionado com a delonga dos originais. Tenho grande expectativa em teu
parecer sobre o livrinho do Néio Lúcio. Parece-me endereçado, não propriamente à
infância, mas à mentalidade juvenil.
Agradeço-te a notícia referente à filha do Sylvio.
(...)
Comove-me tua bondosa confiança, dando-me a conhecer teu valioso plano de
organização do Novo Testamento para os nossos círculos doutrinários. Padre Rodhen
fez um trabalho nesses moldes para os meios católicos, intitulando-o “Os Quatro
Livros do Novo Testamento”. Conheces? Creio que o trabalho idealizado por ti, com a
interpretação espiritista cristã, é assinalado benefício à Causa, extremamente valioso
como roteiro para nós todos.
Em face do carinho com que te acompanho a tarefa, só
me preocupa um ponto — o da conjugação dos quatro livros.
Há três anos, mais ou menos, assisti a uma aula de Emmanuel sobre os
Evangelhos, em que ele afirmava terem os quatro livros personalidades distintas. Tendo
perguntado a ele como é que eu poderia compreender, desenhou o nosso amigo uma
figura que tentarei reproduzir para mandar-te em anexo. Nunca mais a esqueci. De
qualquer modo, confio em tua inspiração e sei que o teu trabalho virá enriquecer o
nosso campo, de luz e verdade.
Rogo a Emmanuel te ajude sempre e te siga o ministério
de dedicação a Jesus.
Meus parabéns pela organização do “Doutrina Espírita”. Espero possamos tê-lo em
mãos muito breve.
Seguem algumas páginas (...).
Espero escrever-te, logo que o Ismael apareça. Estou
com receio de ele “adoecer” de monotonia aqui em PL. (...)”
O livro psicografado por Zilda Gama, de autoria de Victor Hugo, teve posteriormente
o seu título modificado para “Almas Crucificadas”.
Referência ao primeiro livro ditado por Neio Lúcio — “Mensagem do Pequeno
Morto”, que só foi lançado no ano seguinte.
Wantuil expõe o seu plano de compilação e condensação do Novo Testamento.
Somente três anos depois, em 1949, é que o livro foi publicado, com o título “Síntese de
O Novo Testamento” e assinado por Mínimus, pseudônimo por ele usado
frequentemente.
Chico acha complexa a conjugação dos quatro livros e conta que três anos atrás lhe
fora dado assistir a uma aula de Emmanuel sobre os Evangelhos — certamente em
desdobramento espiritual. Mais à frente, Chico volta a falar sobre aulas no plano
espiritual. Deixamos para fazer nossos comentários nas cartas que virão.
Por ora, apenas assinalamos que essas aulas são peculiares à tarefa mediúnica de
Chico Xavier.
Muitas vezes surgem perguntas a respeito de como o médium adquiriu a cultura que hoje demonstra.
Além do acervo intelectual que ele traz do passado, tem ainda a assistência constante de
Emmanuel, que se encarrega de enriquecê-lo com novos conhecimentos.
Sobre o assunto ele fala em entrevista concedida a Elias Barbosa, quando se
comemorava a passagem do quadragésimo aniversário de suas atividades mediúnicas,
entrevista publicada no livro “No Mundo de Chico Xavier”:
P — “Você se reconhece pessoa inteligente, talvez genial como entendem muitos adversários da
Doutrina Espírita, sempre interessados em desacreditar o fenômeno mediúnico?
R — Não. Nunca me senti assim. Basta lembrar que fui aluno repetente de quarto ano primário no
Grupo Escolar São José, em Pedro Leopoldo, nos anos de 1922 e 1923.
P — Mas, você se reconhece atualmente dispondo de mais facilidade para falar ou escrever?
R — Sim, não posso esquecer que debaixo da disciplina de Emmanuel, que, por misericórdia de Jesus,
me dispensa atenções constantes de um professor (não por mim mas pela obra do Mundo Espiritual),
estou numa escola constante, desde 1931, portanto, há trinta e seis anos consecutivos. Algum proveito de
tantas bênçãos recebidas devo demonstrar.”
Há também uma referência de Chico a um livro do Padre Rohden. Mas, houve um
engano quanto ao título da obra e ele o corrige na carta seguinte.
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