Olá,
“O conhecimento das leis que regem o princípio
espiritual se relaciona de uma maneira direta à questão do
passado e do porvir do Homem.
Sua vida está limitada à existência
atual?
Entrando neste mundo sai ele do nada, e reentra no
nada
ao deixá-lo?
Já tinha vivido antes e viverá outra vez?
Como
viverá e em que condições?
Em uma palavra, de onde veio e para
onde irá?
Por que está sobre a Terra e por que sofre?
Tais são as
questões que cada um se põe porque têm, para todo mundo, um
interesse capital, e que nenhuma doutrina deu ainda uma solução
racional.
Isto que dá o Espiritismo, apoiado em fatos, satisfazendo
às exigências da lógica e da justiça mais rigorosa, é uma das
causas principais da rapidez de sua propagação.
O Espiritismo não é uma concepção pessoal nem o resultado
de um sistema preconcebido.
É a resultante de milhares de
observações feitas em todos os pontos do globo e que convergem
para o centro que os colige e coordena. Todos os seus princípios
constituintes, sem exceção, são deduzidos da experiência.
A
experiência sempre tem precedido a teoria. O Espiritismo, assim
se pensa, desde seu início, tem raízes por toda parte; a história
não oferece nenhum exemplo de uma doutrina filosófica ou
religiosa que tenha, em dez anos, reunido um tão grande número
de adeptos; e entretanto não empregou, para se fazer conhecer,
nenhum dos métodos vulgarmente em uso; propagou-se por si
mesma, pelos simpatizantes que encontrou.
É ainda evidente que a propagação do Espiritismo seguiu,
desde sua origem, uma marcha constantemente ascendente,
malgrado tudo que se fez para o entravar e desnaturar seu caráter,
visando desacreditá-lo na opinião pública.
É mesmo notável
que tudo que se fez com esse propósito lhe favoreceu a difusão;
o barulho que foi feito na ocasião levou as pessoas, que nunca
haviam escutado dele falar, a conhecerem-no; quanto mais se o
há difamado ou ridicularizado, quanto mais as declamações
tenham sido violentas, mais se instigou a curiosidade; e como só
podia sair ganhando no exame, resultou que seus adversários se
fizeram, sem o querer, os seus ardentes propagadores; se as
diatribes não lhe trouxeram nenhum prejuízo, foi porque, estudando-
o em sua fonte verdadeira, se encontrou tudo diferente
daquilo que havia sido sustentado.
Na luta que sustentou, as
pessoas imparciais constataram sua moderação: nunca usou de
represálias contra os seus adversários nem devolveu injúria com
injúria.
O Espiritismo é uma Doutrina filosófica que tem consequências
religiosas, como toda filosofia espiritual; por isso mesmo,
toca nas bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma e
a vida futura; mas não é neste ponto uma religião constituída,
visto que não há culto, nem rituais, nem templo, e que, entre seus
adeptos, não há nenhum padre ou bispo.
Essas qualificações são
pura invenção da crítica. Só é espírita quem simpatiza com os
princípios da Doutrina, e quem nela conforma sua conduta. É
uma opinião, como qualquer outra, que cada um deve ter o
direito de professar, como se o tem de ser judeu, católico, protestante,
fourierista, sansimoniano, voltariano, cartesiano, deísta e
mesmo materialista.
O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como um
direito natural, e a reclama para os seus, como para todo o
mundo. Respeita todas as convicções sinceras, e demanda para si
a reciprocidade. Da liberdade de consciência decorre o direito ao
livre exame em matéria de fé.
O Espiritismo combate o princípio
da fé cega, que impõe ao homem a abdicação de seu próprio
julgamento; diz que toda fé imposta é sem raiz. É por isso que
inscreveu na lista de suas máximas: “Não há fé inabalável senão
aquela que pode enfrentar a razão face a face em todas as
épocas da humanidade.”
Consequente com seus princípios, o
Espiritismo não se impõe a ninguém; ele quer ser aceito livremente
e por convicção.
Expõe suas doutrinas e recebe aqueles
que vêem a ele voluntariamente. Não procura tirar ninguém de
suas convicções religiosas; não se dirige àqueles que têm uma fé
e a quem essa fé satisfaz, mas àqueles que, não estando satisfeitos
do que se lhes foi dado, procuram qualquer coisa melhor.”
Allan Kardec
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