domingo, 27 de abril de 2014

1869, p. 25

Olá,

“O conhecimento das leis que regem o princípio espiritual se relaciona de uma maneira direta à questão do passado e do porvir do Homem.
 Sua vida está limitada à existência atual?
Entrando neste mundo sai ele do nada, e reentra no nada
 ao deixá-lo?
Já tinha vivido antes e viverá outra vez?
 Como viverá e em que condições?
 Em uma palavra, de onde veio e para onde irá?
 Por que está sobre a Terra e por que sofre?
Tais são as questões que cada um se põe porque têm, para todo mundo, um interesse capital, e que nenhuma doutrina deu ainda uma solução racional.
 Isto que dá o Espiritismo, apoiado em fatos, satisfazendo às exigências da lógica e da justiça mais rigorosa, é uma das causas principais da rapidez de sua propagação.
 O Espiritismo não é uma concepção pessoal nem o resultado de um sistema preconcebido.
 É a resultante de milhares de observações feitas em todos os pontos do globo e que convergem para o centro que os colige e coordena. Todos os seus princípios constituintes, sem exceção, são deduzidos da experiência.
A experiência sempre tem precedido a teoria. O Espiritismo, assim se pensa, desde seu início, tem raízes por toda parte; a história não oferece nenhum exemplo de uma doutrina filosófica ou religiosa que tenha, em dez anos, reunido um tão grande número de adeptos; e entretanto não empregou, para se fazer conhecer, nenhum dos métodos vulgarmente em uso; propagou-se por si mesma, pelos simpatizantes que encontrou.
 É ainda evidente que a propagação do Espiritismo seguiu, desde sua origem, uma marcha constantemente ascendente, malgrado tudo que se fez para o entravar e desnaturar seu caráter, visando desacreditá-lo na opinião pública.
É mesmo notável que tudo que se fez com esse propósito lhe favoreceu a difusão; o barulho que foi feito na ocasião levou as pessoas, que nunca haviam escutado dele falar, a conhecerem-no; quanto mais se o há difamado ou ridicularizado, quanto mais as declamações tenham sido violentas, mais se instigou a curiosidade; e como só podia sair ganhando no exame, resultou que seus adversários se fizeram, sem o querer, os seus ardentes propagadores; se as diatribes não lhe trouxeram nenhum prejuízo, foi porque, estudando- o em sua fonte verdadeira, se encontrou tudo diferente daquilo que havia sido sustentado.
Na luta que sustentou, as pessoas imparciais constataram sua moderação: nunca usou de represálias contra os seus adversários nem devolveu injúria com injúria. O Espiritismo é uma Doutrina filosófica que tem consequências religiosas, como toda filosofia espiritual; por isso mesmo, toca nas bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura; mas não é neste ponto uma religião constituída, visto que não há culto, nem rituais, nem templo, e que, entre seus adeptos, não há nenhum padre ou bispo.
 Essas qualificações são pura invenção da crítica. Só é espírita quem simpatiza com os princípios da Doutrina, e quem nela conforma sua conduta. É uma opinião, como qualquer outra, que cada um deve ter o direito de professar, como se o tem de ser judeu, católico, protestante, fourierista, sansimoniano, voltariano, cartesiano, deísta e mesmo materialista.
 O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como um direito natural, e a reclama para os seus, como para todo o mundo. Respeita todas as convicções sinceras, e demanda para si a reciprocidade. Da liberdade de consciência decorre o direito ao livre exame em matéria de fé.
 O Espiritismo combate o princípio da fé cega, que impõe ao homem a abdicação de seu próprio julgamento; diz que toda fé imposta é sem raiz. É por isso que inscreveu na lista de suas máximas: “Não há fé inabalável senão aquela que pode enfrentar a razão face a face em todas as épocas da humanidade.”
Consequente com seus princípios, o Espiritismo não se impõe a ninguém; ele quer ser aceito livremente e por convicção.
 Expõe suas doutrinas e recebe aqueles que vêem a ele voluntariamente. Não procura tirar ninguém de suas convicções religiosas; não se dirige àqueles que têm uma fé e a quem essa fé satisfaz, mas àqueles que, não estando satisfeitos do que se lhes foi dado, procuram qualquer coisa melhor.”

Allan Kardec

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