quinta-feira, 19 de junho de 2014

Cotidiano - OS TIOS

Olá,

Embora raramente residam no mesmo reduto doméstico, os tios constituem vínculos de forte vigor na constelação familiar. Isto porque, a consanguinidade, estreitando a união que deve existir entre todos os seus membros, impõe os sentimentos de fraternidade e respeito que trabalham em favor da harmonia geral.
Não implica que sejam espíritos simpáticos entre si, quase sempre procedentes de outros clãs, que vivenciam a comunhão em novo grupo, preparando-se para os futuros cometimentos na sociedade globalizada.
Pela lei natural, a de amor, quando falecem os pais - irmãos daqueles que sobrevivem - cabe-lhes o dever de amparar, na medida do possível, a família que ficou na orfandade, diminuindo as lutas e os testemunhos que desabam sobre os que sofrem a saudade, a falta física de apoio e experienciam os compromissos para os quais nem sempre estão preparados. Esse amparo não deve consistir apenas na contribuição econômica, quando for o caso, mas sobretudo na orientação moral e participação emocional com o grupo familiar em momentânea desestruturação.
Além da saudade que sofrem os que ficam no corpo físico ante a partida do ser querido, centro de sustentação doméstica, surgem dificuldades materiais imediatas, que aturdem e mais complicam o quadro de dor reinante. A necessidade de auxílio e de suporte impõe-se de imediato, sendo sempre muito bem recebidos. Um compromisso de tal natureza predispõe o indivíduo ao serviço de amor ao próximo menos próximo, trabalhando em favor do grupo social sem interesses mesquinhos e predomínio do egoísmo, iniciando-o na intimidade de uma constelação menor qual a familiar. Verdadeiro treinamento de solidariedade, a opção de servir ao clã, no qual se renasceu, é bênção de inestimável significado para a formação e crescimento do caráter que eleva o ser humano acima da craveira convencional. Amando àqueles que se lhe vinculam pelos fortes impositivos familiares, torna-se mais fácil ampliar o círculo de afetividade a outros que também são necessitados, desenvolvendo a fraternidade legítima, irmã generosa da caridade no seu sentido mais elevado.
Todos se encontram no mundo atados a sagrados deveres, que não podem desconsiderar, constituindo um programa de evolução no rumo do amor universal, que é o oceano para o qual fluem todos os rios da afeição humana. Cabendo-lhes o compromisso de amar até mesmo aqueles que se lhes tornam inamistosos, adversários ou verdugos, como olvidar os espíritos que renascem no grupamento familiar, jungidos a deveres que transcendem à compreensão imediata?
 Os tios, portanto, são também os protetores e amigos mais experientes, que estão a serviço da vida, quando as circunstâncias assim o impõem. Não apenas por ocasião da desencarnação de um ou de ambos os genitores, porém, durante toda a vilegiatura carnal, participando das atividades domésticas, procurando preservar os laços de família, sustentando-se reciprocamente sob o aspecto moral e social, ao mesmo tempo facultando os relacionamentos edificantes entre os seus descendentes, na condição de primos, que são irmãos biológicos mais distantes uns dos outros.
 A sabedoria humana com a qual foi constituída a constelação familiar, partindo do centro, que são os pais, alongando-se, geração a geração, faculta confortável união de parentesco gerador de amizade e aprendizado humano. A figura dos tios é significativa na vida infantil, em face a posse de conhecimentos, de sabedoria, de experiências, de segurança e de afetividade para a criança ainda impossibilitada de entender o processo de vinculação consanguínea.
De muito bom alvitre, portanto, que os laços da união permaneçam sem distanciamento, favorecendo maior harmonia entre todos os membros que se devem amparar nas dificuldades, rejubilar nas conquistas, trabalhar em comunhão de interesses. Certamente, cada espírito tem desenhada no tecido social a sua própria contribuição, não se detendo no grupo doméstico, o que favoreceria o surgimento de preconceito contra os outros, de egoísmo doentio em relação aos seus, em detrimento dos demais, o que, de fato, constitui uma aberração.
 Referimo-nos à manutenção da amizade e da saudável preocupação com o progresso e o desenvolvimento ético-moral, econômico-financeiro e social dos familiares, o que faculta o despertamento e a continuidade da atenção, dos cuidados em relação aos auxílios recíprocos que devem ser oferecidos. Quando viger animosidades, que sempre repontam, como filhas que são da mesquinhez e do atraso moral, a união fraternal de todos deverá trabalhar em favor da recuperação do enfermo espiritual, ensejando-lhe oportunidades de recuperação e de reestruturação na família, desse modo contribuindo para o seu ajustamento na sociedade.
 O relacionamento entre aqueles que se estimam argamassa os sentimentos e as emoções favoráveis ao enfrentamento seguro, quando os desafios e as dificuldades surgirem pelo caminho existencial. Ninguém transita no mundo sem a necessidade de outrem, sem o companheirismo, sem a cooperação de amigos devotados, sem a participação ativa e produtora no grupo social. Qualquer tipo de isolamento representa transtorno de conduta comportamental com perigo de agravamento no desequilíbrio da estrutura emocional. Mesmo quando o indivíduo considera-se auto-suficiente, em face dos recursos de que dispõe, a emoção impõe-lhe relacionamentos indispensáveis à saúde e ao comportamento por necessidade de intercâmbios saudáveis, sustentadores da vida.
O calor humano que deflui da amizade real é estímulo para a existência e valioso contributo terapêutico para o desenvolvimento dos valores que constituem a vida. A ternura é alimento para a alma e o amor é sustentação para a harmonia que mantém o corpo, vitalizando-lhe os vários departamentos. Quando se é amado, mais facilmente se nutre de forças e de coragem para o desempenho das tarefas, e quando se tem a certeza íntima de que nunca se encontra a sós, renovam-se facilmente os painéis dos sentimentos, que trabalham pela manutenção da vitalidade e do entusiasmo em todos os setores de edificação interior.
A vida humana é resultado de um quase infinito processo da evolução sob o comando do Psiquismo Divino, que é todo amor. Herdeiro das expressões primárias por onde transitou, o ser humano traz no imo do ser as experiências adquiridas em cada etapa, acumulando novas conquistas que o elevam na escala espiritual.
...E a família é o resultado feliz do processo evolutivo, graças à conquista da razão, do discernimento, da consciência, do amor. Desse modo, os tios inserem-se nesse processo, cuja cadeia não deve ser interrompida, e quando isso ocorre, surgem dificuldades na estrutura social, o que sempre é lamentável.

Joanna de Ângellis/Divaldo P. Franco                                    Constelação Familiar

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