segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Evangelho - Inferno

Olá,

 Ali haverá choro e ranger de dentes.

 A Humanidade de hoje não aceita a clássica definição de inferno, adotada e ensinada por algumas religiões. Com alguma boa vontade, pode-se admitir que, no alvorecer dos tempos, quando ainda rastejava o pensamento humano, a tese de um inferno, do qual jamais se sai, tivesse alguma utilidade. Concedendo, portanto, a semelhante tese um crédito de compreensão e tolerância, em homenagem à sua ancianidade, poder-se-á admitir a sua serventia numa época em que a Humanidade se encontrava mergulhada, “de corpo e alma”, nos profundos oceanos do obscurantismo.
 O homem embrutecido, o homem selvagem, o homem que lutava por atingir o estágio da Razão — um homem assim, primitivo, atrasado, possivelmente necessitaria de algo que o atemorizasse, de algo que lhe contivesse os violentos e animalizados impulsos, gerados pela feroz ignorância.

 Hoje, contudo, o homem já se esclareceu... embora não se tenha iluminado.
 A Ciência realiza, na atualidade, os mais arrojados voos na direção do conhecimento, desnudando audaciosamente da Natureza as mais notáveis manifestações.
 A Filosofia, por seu lado, não lhe tem ficado atrás no afã de explicar os enigmas da Vida e da Imortalidade.
 A Religião, por sua vez, aliando-se a ambas, desdobra ao Espírito do Homem horizontes mais amplos, perspectivas mais belas e consoladoras, no esperançoso cenário da Evolução.
 O inferno aceito e difundido pela teologia não mais impressiona a ninguém.
As próprias crianças não o levam a sério.
 O homem do século 20 aceita uma fórmula única, simples e lógica, para definir o inferno:
estado consciencial.
 Fórmula que a Doutrina Espírita também aceita e adota, difunde e prega.
Fórmula que assegura a integridade da Justiça Divina, a excelsitude do Amor do Pai.
 Na concepção teológica, é um lugar onde as almas sofrem eternamente; na concepção espírita, é um estado d'alma, transitório, efêmero.
 De acordo com a teologia, é Causa; de acordo com o Espiritismo, é Efeito.
 Com a primeira, foi criado e nele são lançados, eternamente, os infelizes; com o segundo, o homem é quem o cria e nele imerge, temporariamente, vivendo-lhe as emoções e deprimências.
 Duas teses, por conseguinte, inconciliáveis.
 Os Instrutores Espirituais, com a sabedoria e a clareza de sempre, ensinam: não há tormentos eternos para os pecadores, mas, sim, “homens infernais criando infernos para si mesmos”.
 Quem, portanto, fabrica o inferno para o homem é o próprio homem.
 Não seria Deus — ILIMITADO AMOR e INFINITA COMPAIXÃO — quem haveria de engendrar, com requintes de apurada crueldade, como não o faria o mais desumano carcereiro do mundo, tão desalmada prisão para as suas criaturas.
 Se a permanência no inferno tivesse a duração de cem, duzentos ou trezentos anos, contanto que lhe dessem um limite qualquer, um final, mesmo demorado, ainda haveria possibilidade de se admitir, no Criador, algum resquício de piedade.
 Mas o inferno que afirmam haver Deus reservado aos infelizes — inferno que se vai desmoronando como uma casa velha — esse jamais existiu. Admiti-lo, seria considerar o mais rigoroso pai terrestre muito mais compassivo e generoso que o Pai do Céu. Entretanto, continuam a ensinar que Deus permite que nele sejam eternamente torturados os Seus filhos, num fogo que jamais se apaga.
 Jamais se apaga... Eterno... Sem fim... Seu fogo queima, mas não consome as almas.
 Horrível, pavoroso, alucinante! Mais do que isso: ENLOUQUECEDOR!...
 Nele crepitam, incessantemente, rubras labaredas. Línguas de fogo, vermelhas, atrozes, quentes. E, dentro delas, queimando-se por toda a eternidade, mas sem se consumirem — o que seria uma “sinistra esperança”, mas sempre uma esperança — as criaturas que o próprio Deus pôs no mundo para evoluírem.
 Amigos, dispamos a crisálida do fanatismo.
 Amigos, vistamos a túnica do raciocínio e o ponhamos a funcionar...
 O Espiritismo não aceita esse inferno, que nega e destrói o mínimo de Amor, Bondade, Ternura e Misericórdia que o Amantíssimo Pai poderia ofertar aos Seus filhos.
 Não aceitamos, bem assim outros religiosos, esse inferno circunscrito, geograficamente delimitado. Aceitamos, isto sim, o “choro e ranger de dentes” que o Evangelho menciona.
 Aceitamos a existência de planos de sofrimento, em várias partes do Universo.
 De planos inferiores, onde permanecem almas que desrespeitaram as leis divinas, conspurcaram a moralidade e o bem, menosprezaram a virtude e o saber, até que se disponham, elas mesmas, a receber o auxílio divino, sempre disposto a socorrê-las.

 Martins Peralva                                         Estudando o Evangelho

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