quinta-feira, 6 de setembro de 2012

SABEDORIA DO EVGELHO - OS DOIS FILHOS III


Olá,

Jesus pode aceitar que  eles digam que "não sabem"; mas, para que não tenham desculpa de seu dolo, faz questão de dizer-lhes que, a recusa de atender a João o Batista, correspondia a uma rejeição ao chamado divino do Pai.
A lição consiste numa parábola (comparação) que apresenta um fato, e numa previsão do que sucederá em consequência no futuro.


O que ocorre é que pode a humanidade ser considerada dividida em duas facções principais:
os que dizem SIM e não fazem e os que dizem NÃO e fazem.

 Não importa saber se os primeiros são os fariseus e os segundos os publicanos; ou se temos oposição entre judeus e gentios: a aplicação é de todos os tempos, como já escreveu antigamente o autor (desconhecido) do Opus Imperfectum:

"O sim é dito por todos os pretensos justos, e o não por todos os pecadores que, mais tarde, se convertem à senda do bem" (citado em Pirot). Esta é, com efeito, a chave para interpretar a lição, em relação às personagens terrenas. Não importa quando é feito o chamado, se antes ou depois; o essencial é que TODOS são chamados, e muitos se apressam a dizer o SIM, exteriormente, com os lábios, e a entrar para as religiões, as ordens e fraternidades, seguindo os preceitos externos com todo o rigor, executando os ritos e rituais, observando as regras e regulamentos, vestindo-se e paramentando-se impecavelmente. Não obstante, afirma o Mestre que "pecadores e meretrizes entrarão primeiro que eles no reino de Deus".

A interpretação das igrejas ortodoxas, de que o "reino de Deus" exprime aquele "céu" em que os anjinhos ficam a tocar harpas eólias e ao qual se vai depois da morte, faz o ensino no Cristo tornar-se absurdo. Mesmo que consideremos "conversões" ou até mudanças de mente espetaculares.
 Se, todavia, entendermos seu ensino no sentido verdadeiro, a compreensão é clara; no reino de Deus entra-se por meio do mergulho interno.

Ora, todos os que se julgam justos, estão fiados na personagem que cumpre os preceitos humanos externos, voltando-se para fora. Por dentro deles, existe a vaidade e o convencimento de que são bons e superiores às demais criaturas, porque eles estão no caminho certo e os outros são "errados" (Hamartoloí). Enquanto isso, os pecadores e as prostitutas encontram em seu âmago, a humildade que reconhece suas fraquezas, suas deficiências, seus erros. Isso faz que se voltem para dentro de si mesmos, mergulhando no íntimo onde - ao ver seus desregramentos - mais humildes se tornam. Eis que, então, têm facilitado o caminho para o reino de DEUS que está dentro deles e que só se conquista através da humildade e do amor.

O que mais tem chocado nessa frase dura mas verdadeira - e a verdade dói - é verificarmos que ela esvazia toda a prosopopéia de homens e mulheres religiosos, que colocam a "virtude" acima de tudo. Jesus agiu de modo diverso. Apesar da sagrada maternidade e da santidade reconhecida por todos em Maria de Nazaré, Sua mãe, Ele concede as primícias de Seu contato, após a ressurreição, à pecadora de Magdala. Não que não houvesse merecimento da parte de Sua mãe: mas quis ensinar-nos que o parentesco é coisa secundária na vida espiritual, mesmo em se tratando de mãe (quanto mais de outros parentes e amigos!); e segundo, que as meretrizes merecem tanto quanto qualquer outro Espírito, em nada devendo ser sacrificados no processo evolutivo.

 O convencionalismo tradicional que vem de épocas remotas, sobretudo do domínio masculino judaico e cristão (patriarcalismo) - em que os homens são senhores absolutos de qualquer situação, sendo-lhe tudo permitido condena ao opróbrio público as mulheres que se entregam à prostituição, a isso forçadas pelos próprios homens incontinentes e inconscientes do que fazem e inconsequentes. Nenhuma mulher se torna meretriz sem o concurso do homem que a leve a esse caminho: são eles os primeiros a pretender o uso do corpo da mulher, para após condená-la, pois não assumem a responsabilidade de lhes dar um lar.

Profundamente compassivo e percebendo a injustiça dessa condenação hipócrita (pois o homem, quando sem testemunhas, mesmo condenando-as, delas se serve com diabólico empenho e supremo  prazer), o Cristo manifesta a compreensão da realidade: trata-se de criaturas vilmente exploradas pelos que as condenam, mas tão filhas de Deus quanto qualquer santo, e dignas de toda compaixão e ajuda. E como são humildes e sempre cultivam o AMOR - embora nos degraus mais baixos, animalizados e degradados, mas amor - estão em mais próxima sintonia com a Divindade (que é AMOR), que aqueles que só pensam em guerras, em matanças, em odiar inimigos, e para isso se preparam em escolas "especializadas", aprendendo a manejar armas cada vez mais aperfeiçoadas, que matem melhor e mais gente ao mesmo tempo. Quem cultiva o amor sintoniza com Deus que é Amor.

Continua na próxima postagem.

SABEDORIA DO EVANGELHO   CARLOS TORRES PASTORINO

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