Olá,
Na prece que diariamente dirige ao Eterno, o sábio não pede que o seu destino
seja feliz; não deseja que a dor, as decepções, os revezes lhe sejam afastados.
Não! O que ele implora é o conhecimento da Lei para poder melhor cumpri-la; o
que ele solicita é o auxílio do Altissimo, o socorro dos Espíritos benévolos, a
fim de suportar dignamente os maus dias. E os bons Espíritos respondem ao
seu apelo. Não procuram desviar o curso da justiça ou entravar a execução dos
decretos divinos.
Sensíveis aos sofrimentos humanos, que conheceram e
suportaram, eles trazem a seus irmãos da Terra a inspiração que os sustém
contra as influências materiais; favorecem esses nobres e salutares
pensamentos, esses impulsos do coração que, levando-os para altas regiões,
os libertam das tentações e das armadilhas da carne.
A prece do sábio, feita
com recolhimento profundo, isolada de toda preocupação egoísta, desperta
essa intuição do dever, esse superior sentimento do verdadeiro, do bem e do
justo, que o guiam através das dificuldades da existência e o mantêm em
comunicação íntima com a grande harmonia universal.
Mas, a Potência Soberana não só representa a justiça; é também a
bondade, imensa, infinita e caritativa.
Ora, por que não obteríamos por nossas
preces tudo o que a bondade pode conciliar com a justiça? Podemos pedir
apoio e socorro nas ocasiões de angústia, mas somente Deus pode saber o
que é mais conveniente para nós e, na falta daquilo que lhe pedimos, enviarnos-
á proteção fluídica e resignação. Logo que uma pedra fende as águas, vê-se-lhes a superfície vibrar em
ondulações concêntricas. Assim também o fluído universal vibra pelas nossas
preces e pelos nossos pensamentos, com a diferença de que as vibrações das
águas são limitadas, enquanto as do fluído universal se sucedem ao infinito.
Todos os seres, todos os mundos estão banhados nesse elemento, assim
como nós o estamos na atmosfera terrestre. Daí resulta que o nosso
pensamento, quando é atuado por grande força de impulsão, por uma vontade
perseverante, vai impressionar as almas a distâncias incalculáveis.
Uma
corrente fluídica se estabelece entre umas e outras e permite que os Espíritos
elevados nos influenciem e respondam aos nossos chamados, mesmo que
estejam nas profundezas do espaço.
Também sucede o mesmo com todas as almas sofredoras. A prece opera
nelas qual magnetização a distância. Penetra através dos fluídos espessos e
sombrios que envolvem os Espíritos infelizes; atenua suas mágoas e tristezas.
É a flecha luminosa, a flecha de ouro rasgando as trevas. É a vibração
harmônica que dilata e faz rejubilar-se a alma oprimida.
Quanta consolação para esses Espíritos ao sentirem que não estão abandonados, quando vêem
seres humanos interessando-se ainda por sua sorte!
Sons, alternativamente
poderosos e ternos, elevam-se como um cântico na extensão e repercutem
com tanto maior intensidade quanto mais amorosa for a alma donde emanam.
Chegam até eles, comovem-nos e penetram profundamente.
Essa voz
longínqua e amiga dá-lhes a paz, a esperança e a coragem.
Se pudéssemos
avaliar o efeito produzido por uma prece ardente, por uma vontade generosa e
enérgica sobre os desgraçados, os nossos votos seriam muitas vezes a favor
dos deserdados, dos abandonados do espaço, desses em quem ninguém
pensa e que estão mergulhados em sombrio desânimo.
Orar pelos Espíritos infelizes, orar com compaixão, com amor, é uma das
mais eficazes formas de caridade. Todos podem exercê-la, todos podem
fácilitar o desprendimento das almas, abreviar o tempo da perturbação por que
elas passam depois da morte, atuando por um impulso caloroso do
pensamento, por uma lembrança benévola e afetuosa.
A prece fácilita a
desagregação corporal, ajuda o Espírito a libertar-se dos fluídos grosseiros que
o ligam à matéria. Sob a influência das ondulações magnéticas projetadas por
uma vontade poderosa, o torpor cessa, o Espírito se reconhece e assenhoreia-se
de si próprio.
A prece por outrem, pelos nossos parentes, pelos infortunados e enfermos,
quando feita com sentimentos sinceros e ardente fé, pode também produzir
efeitos salutares. Mesmo quando as leis do destino lhe sejam um obstáculo,
quando a provação deva ser cumprida até ao fim, a prece não é inútil. Os
fluídos benéficos que traz em si acumulam-se para, no momento da morte,
recairem sobre o perispírito do ser amado.
“Reuni-vos para orar”, disse o apóstolo (Atos, 12:12).
A prece feita em comum é um
feixe de vontades, de pensamentos, raios, harmonias e perfumes que se dirige
mais poderosamente ao seu alvo. Pode adquirir uma força irresistível, uma
força capaz de agitar, de abalar as massas fluídicas.
Que alavanca poderosa
para a alma entusiasta, que dá ao seu impulso tudo quanto há de grandioso, de
puro e de elevado em si! Nesse estado, seus pensamentos irrompem como
corrente impetuosa, de abundantes e potentes eflúvios. Tem-se visto, algumas
vezes, a alma em prece desprender-se do corpo e, inebriada pelo êxtase, seguir
o pensamento fervoroso que se projetou como seu precursor através do
infinito.
O homem traz em si um motor incomparável, de que apenas sabe tirar
medíocre proveito. Entretanto, para fazê-lo agir bastam duas coisas: a fé e a
vontade.
Considerada sob tais aspectos, a prece perde todo o caráter místico. O seu
alvo não é mais a obtenção de uma graça, de um favor, mas, sim, a elevação
da alma e o relacionamento desta com as potências superiores, fluídicas e
morais.
A prece é o pensamento inclinado para o bem, é o fio luminoso que liga
os mundos obscuros aos mundos divinos, os Espíritos encarnados às almas
livres e radiantes.
Desdenhá-la seria desprezar a única força que nos arranca
ao conflito das paIxões e dos interesses, que nos transporta acima das coisas
transitórias e nos une ao que é fixo, permanente e imutável no Universo. Em
vez de repelirmos a prece, por causa dos abusos ridículos e odiosos de que foi
objeto, não será melhor nos utilizarmos dela com critério e medida?
É com
recolhimento e sinceridade, é com sentimento que se deve orar. Evitemos as
fórmulas banais usadas em certos meios. Nessas espécies de exercícios
espirituais, apenas a nossa boca se move, pois a alma conserva-se muda. No fim de cada dia, antes de nos entregarmos ao repouso, perscrutemos a nós
mesmos, examinemos cuidadosamente as nossas ações.
Saibamos condenar
o que for mau, a fim de o evitarmos, e louvemos o que houvermos feito de bom
e útil. Solicitemos da Sabedoria Suprema que nos ajude a realizar em nós e ao
nosso redor a beleza moral e perfeita. Longe das coisas mundanas, elevemos
os nossos pensamentos. Que nossa alma se eleve, alegre e amorosa, para o
Eterno. Ela descerá então dessas alturas com tesouros de paciência e de
coragem, que tornarão fácil o cumprimento dos seus deveres e da sua tarefa
de aperfeiçoamento.
E se, em nossa incapacidade para exprimir os sentimentos, é
absolutamente necessário um texto, uma fórmula, digamos:
“Meu Deus, vós que sois grande, que sois tudo, deixai cair sobre mim,
humildade, eu que não existo senão pela vossa vontade, um raio de
divina luz. Fazei que, penetrado do vosso amor, me seja fácil fazer o bem e
que eu tenha aversão ao mal; que, animado pelo desejo de vos agradar, meu
espírito vença os obstáculos que se opõem à vitória da verdade sobre o erro,
da fraternidade sobre o egoísmo; fazei que, em cada companheiro de
provações, eu vej a um irmão, assim como vedes um filho em cada um dos
seres que de vós emanam e para vós devem voltar.
Dai-me o amor do
trabalho, que é o dever de todos sobre a Terra, e, com o auxílio do archote que
colocaste ao meu alcance, esclarecei-me sobre as imperfeições que retardam
meu adiantamento nesta vida e na vindoura.”
Unamos nossas vozes às do infinito. Tudo ora, tudo celebra a alegria de
viver, desde o átomo que se agita na Lua até o astro imenso que flutua no éter.
A adoração dos seres forma um concerto prodigioso que se expande no
espaço e sobe a Deus.
É a saudação dos filhos ao Pai, é a homenagem
prestada pelas criaturas ao Criador. Interrogai a Natureza no esplendor dos
dias de sol, na calma das noites estreladas. Escutai as grandes vozes dos
oceanos, os murmúrios que se elevam do seio dos desertos e da profundeza
dos bosques, os acentos misteriosos que se desprendem da folhagem,
repercutem nos desfiladeiros solitários, sobem as planícies, os vales,
franqueiam as alturas e espalham-se pelo Universo. Por toda parte, em todos
os lugares, concentrando-vos, ouvireis o cântico admirável que a Terra dirige à
Grande Alma. Mais solene ainda é a prece dos mundos, o canto suave e
profundo que faz vibrar a imensidade e cuja significação sublime somente os
Espíritos elevados podem compreender.
Leon Denis " Depois da Morte "
Deixe seu comentário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário