domingo, 27 de outubro de 2019

Vigilância - RESIGNAÇÃO NA ADVERSIDADE

Olá.

 O sofrimento é lei em nosso mundo. Em todas as condições, em todas as idades, sob todos os climas, o homem tem padecido, a Humanidade tem derramado lágrimas. Apesar dos progressos sociais, milhões de seres gravitam ainda sob o jugo da dor.
As classes elevadas também não têm sido isentas desses males. Entre os Espíritos cultivados as impressões são mais dolorosas, porque a sensibilidade está mais esmerada, mais apurada. O rico, assim como o pobre, sofre material e moralmente.
De todos os pontos do globo o clamor humano sobe ao espaço. Mesmo no seio da abundância, um sentimento de desânimo, uma vaga tristeza apodera-se por vezes das almas delicadas.

Sentem que neste mundo é irrealizável a felicidade e que, aqui, apenas se pode perceber dela um pálido reflexo. O Espírito aspira a vidas e mundos melhores; uma espécie de intuição diz-lhe que na Terra não existe tudo. Para o homem que segue a filosofia dos Espíritos, essa vaga intuição transforma-se em absoluta certeza. Sabe onde vai, conhece o porquê dos seus males, qual a causa do sofrimento. Além das sombras e das angústias da Terra, entrevê a aurora de uma nova vida.
Para apreciar os bens e os males da existência, para saber em que consiste a verdadeira desgraça, em que consiste a felicidade, é necessário nos elevarmos acima do círculo acanhado da vida terrena,
 O conhecimento do futuro e da sorte que nos aguarda permite medir as conseqüências dos nossos atos e sua influência sobre os tempos vindouros. Observada sob este ponto de vista, a desgraça, para o ser humano, já não é mais o sofrimento, a perda dos entes que lhe são caros, as privações, a miséria; a desgraça será então tudo o que manchar, tudo o que aniquilar o adiantamento, tudo o que lhe for um obstáculo. A desgraça, para aquele que só observar os tempos presentes, pode ser a pobreza, as enfermidades, a moléstia. Para o Espírito que paira no alto, ela será o amor do prazer, o orgulho, a vida inútil e culposa.
Não se pode julgar uma coisa sem se ver tudo o que dela decorre, e eis por que ninguém pode compreender a vida sem conhecer o seu alvo e as leis morais.
As provações, purificando a alma, preparam sua ascensão e felicidade; no entanto, as alegrias deste mundo, as riquezas, as paixões entibiam-na e atiram-na para uma outra vida de amargas decepções. Assim, aquele que é oprimido pela adversidade pode esperar e erguer um olhar confiante para o céu; desde que resgata a sua dívida, conquista a liberdade; porém, esse que se compras na sensualidade constrói a sua própria prisão, acumula novas responsabilidades que pesarão extraordinariamente sobre as suas vidas futuras. A dor, sob suas múltiplas formas, é o remédio supremo para as imperfeições, para as enfermidades da alma. Sem ela não é possível a cura.
Assim como as moléstias orgânicas são muitas vezes resultantes dos nossos excessos, assim também as provas morais que nos atingem são consequentes das nossas faltas passadas.
 Cedo ou tarde, essas faltas recairão sobre nós com suas deduções lógicas.
 É a lei de justiça, de equilíbrio moral. Saibamos aceitar os seus efeitos como se fossem remédios amargos, operações dolorosas que devem restituir a saúde, a agilidade ao nosso corpo.
Embora sejamos acabrunhados pelos desgostos, pelas humilhações e pela ruína, devemos sempre suportá-los com paciência.
O lavrador rasga o seio da terrapara daí fazer brotar a messe dourada. Assim a nossa alma, depois de desbastada, também se tornará exuberante em frutos morais. Pela ação da dor, larga tudo o que é impuro e mau, todos os apetites grosseiros, vícios e paixões, tudo o que vem da terra e deve para ela voltar. A adversidade é uma grande escola, um campo fértil em transformações. Sob seu influxo, as paixões más convertem-se pouco a pouco em paixões generosas, em amor do bem. Nada fica perdido. Mas, essa transformação é lenta e dificultosa, pois só pode ser operada pelo sofrimento, pela luta constante contra o mal, pelo nosso próprio sacrifício. Graças a estes, a alma adquire a experiência e a sabedoria. Os seus frutos verdes e amargos convertem-se, sob a ação regeneradora da prova, sob os raios do Sol divino, em frutos doces, aromáticos, amadurecidos, que devem ser colhidos em mundos superiores.
A ignorância das leis universais faz-nos ter aversão aos nossos males. Se compreendêssemos quanto esses males são necessários ao nosso adiantamento, se soubéssemos saboreá-los em seu amargor, não mais nos pareceriam um fardo. Porém, todos odiamos a dor e só apreciamos a sua utilidade quando deixamos o mundo onde se exerce o seu império.
Ela faz jorrar de nós tesouros de piedade, de carinho e afeição. Esses que não a têm conhecido estão sem méritos; sua alma foi preparada muito superficialmente. Nesses, coisa alguma está enraizada: nem o sentimento nem a razão. Visto não terem passado pelo sofrimento, permanecem indiferentes, insensíveis aos males alheios.
Em nossa cegueira, estamos quase sempre prontos a amaldiçoar as nossas vidas obscuras, monótonas e dolorosas; mas, quando elevamos nossa vista acima dos horizontes limitados da Terra, quando discernimos o verdadeiro motivo das existências, compreendemos que todas elas são preciosas, indispensáveis para domar os espíritos orgulhosos, para nos submeter a essa disciplina moral, sem o que não há progresso algum.

Leon Denis                      " Depois da Morte "

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