Olá,
Como agir quando os pais não possuem informações corretas
sobre as drogas?
Geralmente os filhos são mais bem informados do que os pais, se
os pais não possuem informações das drogas ilegais, ele conhece as
legais e grande parte das informações das drogas legais é igualmente
válida para as ilegais.
Não existe nenhum constrangimento admitir que
não possui as informações e que vão consultar algumas fontes
fidedignas, o que não se pode é discutir sem fundamentação científica
e com preconceito.
Joanna de Ângelis aconselha aos pais sempre
conversarem mostrando cientificamente os fatos para não perderem a
credibilidade dos filhos.
No entanto, relacionamentos familiares sólidos são mais
importantes do que o conhecimento dos pais sobre drogas, afirma
Silveira (1999) Jovens dependentes geralmente possuem relações
distantes e apagadas com seus pais.
Quando o dependente precisa ser internado para tratamento?
Na maior parte das vezes, o tratamento do dependente de drogas
não requer internação. A internação sem necessidade pode ser uma
abordagem desastrosa, causando revolta e efeitos contrários ao
esperado.
O especialista tem que estabelecer um critério claro e
definido e o usuário estar convencido da necessidade da ajuda.
Existem diferentes modelos de tratamento, porém os efeitos positivos
dependem da capacitação técnica dos profissionais envolvidos e do
tratamento espiritual efetuado concomitantemente.
O que você gostaria de concluir para os pais e educadores?
Pais e educadores precisam trabalhar com suas cabeças, reverem
seus valores e filosofia de vida, refletirem sobre suas relações com as
drogas e com quem as utilizam.
A família precisa focalizar sua preocupação não só com o trabalho e
o dinheiro, mas com a convivência afetiva, exercitando seus filhos a
conviverem com as frustrações, com limites, a saberem lidar com as
figuras de autoridade e a desenvolverem sua autonomia e
responsabilidade por suas opções.
A escola necessita de uma decisão política corajosa da direção,
arrumar "tempo" para lidar com questões de formação humana,
precisa envolver toda a equipe em cursos, treinamentos, estudos e
trocas de experiências. Se sentir necessidade, precisa buscar ajuda de
um especialista no assunto para montar e executar um projeto coletivo
de prevenção.
Qual o papel da informação no trabalho de prevenção de droga?
A informação é apenas um aspecto da prevenção, não precisamos
fazer um curso de farmacologia para entendermos profundamente os
efeitos da droga no sistema nervoso e realizarmos prevenção. Um
exemplo é o cigarro, mais do que a mídia informa, os pesquisadores
descobrem e constatam, nada disso serve para prevenir.
Hoje mais do
que nunca, depois do movimento dos não-fumantes e da proibição
para os fumantes, os jovens instigados pela transgressão voltaram ao
cigarro pra valer, de 1991 para cá vemos aumentar o número de
jovens fumantes.
Um programa de prevenção inclui as drogas legais e ilegais?
Um programa de prevenção sério não faz distinções, principalmente
porque o álcool e o cigarro são as drogas mais consumidas e
provocam tantos estragos. O álcool, campeão em pesquisas está em
segundo lugar entre as doenças mentais, em terceiro lugar em
aposentadorias por invalidez, 10% da população mais de 15 anos
consomem abusivamente do álcool, é o campeão em acidentes de
trânsito, conflitos familiares, violência, perda ao trabalho, etc.
O cigarro
é um "furo" no campo da saúde, provoca câncer, enfisema, problemas
circulatórios, reduz o tempo e a qualidade de vida dos fumantes, além
dos prejuízos aos não fumantes, como asma, problemas alérgicos.
Os
medicamentos sem prescrição médica é outra droga legal e de intenso
consumo principalmente por adultos.
Todos que usam drogas tornam-se dependentes?
Qual o risco em
experimentar a droga?
Estatísticas mostram que uma minoria de jovens chega a uma
escalada crescente na toxicomania, são os que apresentam
perturbações pessoais e familiares profundas e precoces, assinaladas
desde a tenra infância, revelando extrema dificuldade de tolerar
frustrações, preencher o vazio e suportar a realidade.
Muitos jovens experimentam e se recusam a usar; outros iniciam
um consumo recreativo e não continuam; principalmente quando
ocorre a intervenção da família e montam um projeto de vida.
Acontece que nunca poderemos conhecer nosso mundo interno
para saber se a droga poderá ocupar um espaço pequeno ou grande,
se iremos parar quando assim decidirmos, basta perceber as pessoas
que fumam, para conhecermos um pouco deste dilema: querem parar,
sabem que faz mal, estão super convencidas, mas não conseguem.
É importante acrescentar que o uso, mesmo que experimental,
pode vir a produzir danos à saúde da pessoa.
Existem modelos diferentes de prevenção? Quais?
A Escola Paulista de Medicina classificou 3 linhas de atuações
diferentes:
O Modelo de Controle Social, O Oferecimento de
Alternativas e Educação.
O Modelo de Controle Social é uma proposta bem conservadora,
significa controlar e dirigir a vida do jovem, está em desuso e não deu
resultados.
* propõe intervenções nas
áreas culturais, esportivas e artísticas.
* possui vertentes diferentes, uma é a do
Amedrontamento, usada no passado e sem sucesso, outra é do
Conhecimento Científico, que pode despertar ao invés de prevenir,
outra é o da Educação Afetiva, centraliza a atenção na pessoa do
jovem, auto-estima, relação com colegas, resistência às pressões, etc.
O Modelo da Pressão Positiva, outra vertente do Modelo de
Educação, fortalece a relação de ajuda entre os jovens, incentiva o
não-uso.
Por último, o modelo de Estilo de Vida Saudável, trata de ecologia
médica e humana.
Destes modelos, quais são os mais recomendados?
Uma mistura dos modelos de Oferecimento de Alternativas,
Educação Afetiva, Pressão Positiva e Estilo de Vida Saudável.
Adoto uma concepção educativa de prevenção, onde os aspectos
formativos são mais importantes que os informativos. Mais importante
que uma aula de Biologia sobre a ação das drogas no organismo é
uma postura de respeito ao aluno, estímulo à sua auto-estima, autoconfiança
e desenvolvimento de sua autonomia.
Famílias e escolas
precisam repensar seu papel e examinar se tem sobrado espaço para
criança ou jovem tomar pequenas decisões. Porque a opção pelas
drogas é uma opção individual, tem que ser avaliada pelo jovem, tem
que passar pelo seu crivo crítico, mas se nunca precisou tomar
decisão, a escolha pelo modismo é meio caminho andado.
A informação é uma parte do processo, o mais importante, é a
atenção aos aspectos biopsicosociais do jovem, sua necessidade de
auto-estima, auto-confiança, suporte espiritual e projeto de vida.
A filosofia moderna de prevenção está centrada nos seguintes
aspectos:
formação do ser humano; valores; motivações;
estilo de vida
isento de drogas (ou pelo menos, de acordo com a idade,
um uso
"responsável" do álcool droga social);
alternativas no campo do lazer;
esporte e artes (desenvolvimento do potencial criativo).
Basicamente, a prevenção deve concentra-se menos nos perigos e
aspectos farmacológicos (por isso a informação é apenas um
componente e sempre aparece contextualizada no cenário educativo)
e enfoca mais a fase da adolescência, a busca da auto-afirmação,
auto-estima, o conflito dependência e independência, a transgressão, o
conflito com a pessoa de autoridade, a dificuldade de enfrentar
problemas e limites e a questão do prazer.
A prevenção alerta sobre os
riscos de tolerância e dependência e, principalmente, focaliza a
responsabilidade pessoal pela opção a ser tomada.
Como falar de drogas com os alunos ?
Antes de tudo, o mais importante é a postura do professor frente ao
assunto, examinando seus próprios sentimentos e adotando uma
postura segura, transparente e sem preconceitos. Na abordagem deve
incluir as drogas legais como sua maior preocupação, buscar
informações básicas e tratar o tema sem terrorismo.
Diante destas premissas, organizar atividades priorizando certos
objetivos como: desenvolvimento do auto-conhecimento, auto-estima,
espírito crítico e autonomia.
O professor deve ter em vista que a
informação sobre drogas é apenas um recurso, o mais importante são
os aspectos afetivos e sociais do aluno.
Sugestões de atividades para a escola:
* Organizar grupos de estudos entre os profissionais. Formar ou
contratar especialistas a fim de encontrar subsídios para montar um
projeto de prevenção para a escola.
* Formar uma equipe de técnicos e professores sensibilizados da
necessidade de trabalhar prevenção às drogas. Centralizar as
atividades num departamento como o Serviço de Orientação
Educacional.
* Usar metodologia ativa e pouco acadêmica, tais como: colagens,
jograis, dramatizações, histórias em pedaços, júris simulados, etc.
* Introduzir no currículo o tema droga e realizar uma abordagem
interdisciplinar.
Como exemplo, partir de temas geradores:
"Tudo
que é nocivo ao homem" ; "Geração Saúde" ; "Prazer: limites e
possibilidades"; "Inteligência Emocional", etc.
* Aproveitar as oportunidades que os alunos oferecem na aula,
para criar um espaço aberto de reflexão, não só para o tema droga,
como para outros que falam de "vida", tais como: sexualidade,
AIDS, esporte, violência, globalização, poluição, etc.
Escola é espaço de vida e de formação. Geralmente os jovens
podem ser permissivos, preconceituosos ou compreensivos, de
qualquer forma, eles sabem lidar melhor com o tema do que os
adultos. Por isto, o professor deve ouvir e aproveitar os argumentos
construtivos feitos por alguns alunos, enfatizando os riscos da
"dependência" e "tolerância".
Falar de droga é tocar na questão do prazer, é falar de sentido da
vida. Acreditamos que o jovem conectado com uma força espiritual
faça opções saudáveis, principalmente, se possuir metas definidas
sobre seu futuro, se possuir um projeto de vida.
Daí, a valorização do
aluno como pessoa integral e não a busca da informação pura e
simples da ação da droga no organismo.
Livro:
A PREVENÇÃO DE DROGAS
À LUZ DA CIÊNCIA E DA DOUTRINA ESPÍRITA
REFLEXÕES PARA JOVENS E EDUCADORES
Rosa Maria Silvestre Santos
Pedagoga, psicopedagoga, psicodramatista, consultora de prevenção às drogas, co-dirigente do curso "Escolinha" de Pais.
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