Olá,
O clero (basta dizer que a palavra "clero", que eles
se atribuem, significa exatamente "escolhidos") é sempre idêntico em todas as religiões, em todos os
climas, em todas as épocas: são os "donos" de Deus, os únicos que sabem, que podem, que mandam ...
Até que a vinha passe a outras mãos. Como a vaidade humana destrói as criaturas!
Mas o Mestre não pára aí. Prossegue na lição, com um adendo que confirma Sua parábola.
Por isso indaga ironicamente se eles "nunca tinham lido" as palavras do Salmo (117:22-23).
Fazendo
parte do hallel, haviam sido elas oficialmente cantadas dois dias antes.
Aqui traduzimos literalmente: "uma pedra (em grego sem artigo) que os construtores recusaram, essa
se transformou em cabeça de ângulo". A expressão hebraica é 'eben pinnâh; o grego a exprime de diversas
formas: líthos gôniaíos ("pedra angular"), akrogôniaíos ("ponta de ângulo") ou kephalê gônías
("cabeça de ângulo", como aqui).
Aparece no Antigo Testamento em Job (38:6), em Isaías (28:16) e no
Salmo citado; no Novo Testamento nestes três Evangelhos e mais em Atos (4:11), na carta aos Efésios
(2:20) e na primeira de Pedro (2:6-7).
Depois Jesus continua citando livremente (cfr. Is. 8:14-15 e 28:15 e Dan. 2:32-35):
"o que cai sobre
essa pedra, será contundido; sobre quem ela cair, ela o peneirará (likmêsei, de likmáô). As traduções
correntes interpretam: "esmagará", mas o verbo tem sentido preciso: "peneirar", para que o vento carregue
a palha e fique, sobre a peneira, apenas o grão.
Para lhe dar sequência ao pensamento, sem interrupções, invertemos a ordem dos versículos de Mateus,
colocando o 44 antes do 43, concordando a ordem do texto com os de Marcos e Lucas.
No final, em Mateus, Jesus diz taxativamente:
"Por isso será tirado de vós o Reino de Deus, e será
dado a um povo que faz os frutos dele". O mesmo evangelista acrescenta (sem necessidade) que os
sacerdotes e fariseus compreenderam que se referia a eles. Mas se foi dito categoricamente isso mesmo!
Todos os comentaristas concordam quanto à clareza meridiana da interpretação alegórica, dada pelo
próprio Mestre, de que a autoridade hierática passaria dos judeus aos cristãos, chegando Jerônimo (Patrol. Lat. vol. 26, col. 158) a escrever: Locata est autem nobis vinea, et locata ea conditione, ut
reddamus Domino fructum tempóribus suis, et sciamus unoquoque témpore quid opórteat nos vel loqui
vel fácere, isto é:
"foi-nos arrendada, pois, a vinha, e arrendada com a condição de darmos ao Senhor o
fruto nas épocas próprias, e de sabermos em qualquer tempo o que tenhamos que falar e que fazer".
Essa a evidente intenção do ensino para as personagens terrenas, para os sacerdotes de todas as épocas
e nações, quando se arrogam a prerrogativa de serem os únicos privilegiados, com tal prestígio diante
de Deus, que o Criador tem que pedir-lhes licença e obter o nihil obstat antes de agir entre os homens!
Mas há outras lições a transparecer da parábola, com grande clareza. Vejamos, inicialmente, no âmbito
restrito da criatura humana.
O dono da vinha é o Espírito que planta, cerca, prepara, aprimora um corpo físico para, por meio
dele, extrair frutos para seu aprendizado e sua evolução. Uma vez tudo pronto, entrega a vinha aos
cuidados da personagem, sob o comando do intelecto, e ausenta-se para longa viagem a outro país,
isto é, recolhe-se a seu plano, deixando que o intelecto dirija toda a produção dos frutos por sua conta.
No entanto, nas épocas próprias, o Espírito deseja recolher a parte que lhe toca dos frutos produzidos,
e para isso manda mensageiros preparados, "cobradores" das dívidas cármicas, que vão experimentar
se conseguem dobrar e comover o lavrador ao qual foi confiada a vinha.
Mas, não tendo havido progresso, esses obsessores (encarnados ou desencarnados) que se lhe aproximam
e lhe entram no círculo ambiental, do parentesco ou das amizades ou da aura espiritual, ainda
são repelidos com rebeldia e insubordinação.
Outros e mais outros vão chegando, e por vezes cresce a
irritação. Por vezes, não satisfeito com o maltrato infligido aos afins encarnados ou aos estranhos que
encontra, chega até o homicídio.
O senhor da vinha, o Espírito, verifica que a personagem por ele criada e o intelecto a que a confiou,
não tem condição de recuperação. Não atende às lições que lhe foram ensinadas: "ama a teu próximo
como a ti mesmo" (Mat. 19:19); "harmoniza-te com o adversário enquanto estás no caminho com ele"
(Mat. 5:25); "perdoa setenta vezes sete" (Mat. 18:22); "ama teus inimigos" (Mat. 5:44), etc. etc.
Ainda uma tentativa será feita: o Espírito enviará seu próprio filho amado, sua própria Mente, por
meio de fortes intuições, de remorsos, por vezes até de quadros mentais e vozes que surgem, para
chamar o intelecto à razão.
Mas, empedernido em sua maldade, ambiciosa e crente de que poderá tornar-se eterno como o Espírito,
herdando a vida (a "vinha") que, de fato, não lhe pertence, mas apenas lhe foi confiada, a personagem
expulsa de si mesmo todas essas vozes incômodas e mata-as, para procurar apoderar-se da
vida.
Quando vê que tudo está perdido, o Espírito resolve solucionar pessoalmente o caso. Regressa, pois,
junto dessa personagem e perde-a, fazendo-a desfazer-se pela "morte", para então entregar a vinha a
outros lavradores: a outro intelecto, com a esperança de conseguir, então, colher os frutos de que
necessita para seu progresso.
Embora totalmente nova e original, essa interpretação parece-nos válida, e confirma amplamente a
doutrina da REENCARNAÇÃO, inclusive o processo utilizado pelo Espírito para plasmação das personagens
que lhe são necessárias; o afastamento que o Espírito opera para deixar que a personagem
tenha liberdade de ação, de tal forma que, os que ainda não se uniram ao Espírito, têm até dificuldade
em reconhecê-lo e acreditam que seu verdadeiro EU seja apenas o eu personalístico; e deixa mesmo
entrever a suposição de que, se a personagem, numa vida, conseguiu produzir para o Espírito, frutos
opimos e valiosos, este poderá fazê-la reencarnar de novo, uma e mais vezes, a fim de aproveitar-lhe
ao máximo as qualidades já desenvolvidas anteriormente.
"SABEDORIA DO EVANGELHO" CARLOS TORRES PASTORINO
Deixe seu comentário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário