Olá,
Nesse ponto da descida social, parado enquanto olhava os bichos, pode meditar sobre sua situação;
e o
evangelista e médico Lucas sabe dizê-lo com uma expressão psicológica bem adequada:
"entra em si
mesmo" (eis eautón êlthôn), passando a julgar pela razão, e não sob o domínio dos sentidos.
E percebe
que cometeu grave erro.
Resolve, então, regressar ao lar paterno.
Estuda a frase com que se apresentará a seu pai, solicitando
um lugar como empregado, já que sente não mais merecer, de justiça, o posto de filho. Pelo menos,
ainda que como servo, terá alimentação, e não mais viverá entre suínos.
Revela, portanto, humildade e
confiante amor pelo pai.
Feita a viagem, é percebido ainda ao longe pelo instinto paterno. A frase estudada é proferida, com
exceção da última parte: diante da recepção amiga e efusiva do pai, constituiria ofensa pedir-lhe para
ser considerado simples empregado (embora essa segunda parte da frase apareça nos códices Sinaítico
e Vaticano) não aparece no papiro 75, parecendo que a correção do copista se deve ao automatismo de
fazer o moço dizer ao pai a frase completa que preparara).
Além de manifestar sua alegria pessoalmente, com abraços e beijos, manda vesti-lo com a melhor tú-
nica, calçá-lo com sandálias (só os servos andavam descalços), e colocar-lhe no dedo o anel simbólico
da família, e ordena se proceda a um banquete, mandando matar um bezerro gordo, como nas grandes
festas (cfr. Gên. 18:7).
Essa matança de bezerros é a recordação ou revivescência do passado egípcio, quando nosso planeta
estava sob o signo de Touro ("boi Ápis").
Os hebreus que já haviam saído desse signo (a "saída do
Egito") teimavam em recordar os velhos tempos" e a querer adorar o bezerro, como ocorreu no deserto
(cfr. Êx. cap. 32) ou por obra de Jeroboão (1.º Reis 12:30).
No entanto, a era dos judeus estava sob o signo do Cordeiro, como nos dá conta o capitulo 12 de Êxodo,
com o ritual da passagem ("Páscoa") do signo do Touro para o signo do Cordeiro.
Quando de sua estada na Terra, Jesus fez a passagem do signo do Cordeiro (tendo sido Ele chamado
"O Cordeiro de Deus", pelo Batista) para o signo de Peixes, como deixou bem claro com as duas multiplicações de pães e peixes (cfr. vol. 3 e vol. 4) e quando, depois da "ressurreição", dá aos discípulos,
os "pescadores" de homens, na praia, pães e peixes (João, 21:13) , e também como exprime a própria
palavra grega I-CH-TH-Y-S ("peixe"), adotada como pentagrama de JESUS CHRISTO FILIUS DEI
SALVATOR (em grego) em substituição ao tetragrama de YHWH, e bem assim o desenho do peixe
como "sinal" secreto dos iniciados cristãos entre si.
Atualmente, quando passamos de Peixes para Aquário, tudo é renovado: símbolos. sinais, palavras,
senhas, etc. Mas só os que são realmente iniciados se conhecem através deles, porque só eles os conhecem,
e outras pessoas passam por eles sem nada perceber. Só podemos informar, pelo que nos dizem,
que não se trata de nenhum dos símbolos antigos ressuscitados: é tudo novo e tão simples, que,
mesmo vendo-os ninguém os nota.
Só agora aparece o filho mais velho, chegando do campo onde trabalhava, e estranha a festa de que
não tivera notícia. Quando sabe do motivo, por meio de um dos servos, transborda seu despeito e inveja,
e reclama acremente tomando a atitude infantil do "não brinco mais".
Os hermeneutas interpretam a parábola como aplicando-se aos fariseus (o mais velho) e aos publicanos
(o mais moço). Mas Dâmaso compreende o mais velho como representante dos "justos", embora a um
justo, diz ele, não convenha "que se entristeça com a salvação de outrem, especialmente de um irmão"
(ut de salute alterius et maxime fratris contristetur, Patrol. Lat. vol. 22, col. 380).
E Jerônimo o acompanha
(Patrol, Lat. vol. 22, col. 389): ut licet videatur obsistere, quod reversioni fratris invideat, isto é,
"embora pareça opor-se, porque inveja o regresso ao irmão.
Há outras interpretações possíveis, além dessa que transparece, à primeira vista, da "letra" do texto, e
que foi aventada em época pelos pais da igreja.
Realmente a atitude de total modificação mental apresentada
pelos "publicanos" e a vaidosa pose dos "doutores em Escritura" e dos "fariseus", dá margem
a que a parábola se adapte plenamente a eles, demonstrando que os primeiros são recebidos com alegria
porque se modificaram; ao passo que os segundos são advertidos a respeito da necessidade de
perdoar e amar aos que retornam do caminho árduo das experiências dolorosas.
Alerta que vale até
hoje, quando os religiosos ortodoxos sempre ficam prevenidos com os antigos "pecadores", julgandoos
inferiores a si.
Mas procuremos mergulhar mais a fundo no "espírito que vivifica" (João, 6:63) e façamos rápida
análise do texto.
Observemos o triângulo escaleno, formado pelo pai e pelos dois filhos, um "mais velho" (presbyteros)
e portanto teoricamente mais experiente, porque mais vivido, e o outro "mais moço" (neôteros) e por
conseguinte necessitando adquirir as experiências que o primeiro já vivera.
No entanto, a parábola
não confirma essa impressão e vai mostrar-nos um "mais velho" inexperiente, de mentalidade infantil,
que jamais se afastou da proteção paterna. E, por falar nisso, observemos que a parábola não fala,
em absoluto, da mãe dos rapazes.
O "mais moço", cheio de vigor e ambição, sente o impulso íntimo de ganhar a amplitude da liberdade,
para agir por conta própria segundo seu livre-arbítrio.
]Requer, então, os meios indispensáveis para
lançar-se a campo e conquistar aprendizado à sua custa. Não quer "avançar" no que lhe não pertence:
solicita apenas o que de direito lhe cabe, pela natureza e pela lei. E o pai atende à solicitação do
filho sem nada indagar , já que reconhece o requerido não apenas justo, mas necessário, a fim de que
o filho possa adquirir experiências que o façam evoluir.
Faz-lhe, então, entrega do que foi solicitado. E aqui observamos que, no original, está escrito que o
pai dividiu-LHES (autois), como se tivesse dado a mesma coisa aos dois, e não apenas ao mais moço.
Continua na próxima postagem.
" SABEDORIA DO EVANGELHO " CARLOS TORRES PASTORINO
DEIXE SEU COMENTÁRIO
Nenhum comentário:
Postar um comentário