Olá,
Na lenta ascensão que conduz o ser para Deus, o que
buscamos antes de tudo, é a felicidade, a ventura. Entretanto,
no seu estado de ignorância, o homem não saberia atingir esses
bens, pois ele os procura quase sempre onde eles não estão, na
região das miragens e das quimeras, e isso por meio de processos
cuja falsidade não lhe aparece senão após muitas decepções
e sofrimentos.
São esses sofrimentos que nos esclarecem;
nossas dores são lições austeras; elas nos ensinam que a verdadeira
felicidade não está nas coisas da matéria, passageiras e
mutáveis, mas na perfeição moral. Nossos erros e nossas faltas
repetidas, as fatais consequências que arrastam, terminam por
nos dar a experiência, e esta nos conduz à sabedoria, quer dizer,
ao conhecimento inato, à intuição da verdade.
Tendo chegado
a esse terreno sólido, o homem sentirá o laço que o une a
Deus e ele avançará com um passo mais seguro, de etapas em
etapas, para a grande luz que não se apaga jamais.
Todos os seres estão ligados uns aos outros e se influenciam
reciprocamente.
O Universo inteiro está submetido
à lei da solidariedade.
Assim, na escala da vida, todas as almas estão unidas
por relações múltiplas. A solidariedade que as une está fundamentada
na identidade de sua natureza, na igualdade de seus
sofrimentos através dos tempos, na similitude de seus destinos
e de seus fins.
Como os astros dos céus, todas essas almas se atraem. A
matéria exerce sobre o espírito seus poderes misteriosos.
A alma humana sente todas as atrações da vida inferior;
ao mesmo tempo, percebe o apelo da vida elevada.
Nessa laboriosa e penosa evolução que arrasta os seres,
há um fato consolador sobre o qual é bom insistir: é que em todos
os graus de sua ascensão, a alma é atraída, auxiliada, socorrida
pelas Entidades Superiores.
Todos os espíritos em marcha são
ajudados pelos seus irmãos mais adiantados e devem auxiliar,
por sua vez, aqueles que estão colocados abaixo deles.
Cada individualidade forma como um anel da grande
corrente dos seres.
A solidariedade que os une pode bem restringir
um pouco a liberdade de cada um deles, mas se essa
liberdade é limitada em extensão, ela não o é em intensidade.
Por mais limitada que seja a ação do anel, um só de seus impulsos
pode agitar toda a corrente.
É uma coisa maravilhosa essa fecundação constante
do mundo inferior pelo mundo superior. Daí vem todas as intuições
geniais, as inspirações profundas, as revelações grandiosas.
Em todos os tempos, o pensamento elevado irradiou
no cérebro humano. Deus, na sua equidade, não recusou seu
socorro nem sua luz a nenhuma raça, a nenhum povo.
Enviou
a todos guias, missionários, profetas. A verdade é uma e eterna;
penetra na Humanidade através de irradiações sucessivas,
à medida que nosso entendimento se torna mais apto para
assimilá-la.
Cada nova revelação é uma continuação da antiga. Aí
está o caráter do Espiritualismo Moderno, que traz um ensinamento,
um conhecimento mais completo do papel do ser humano,
uma revelação dos poderes nele ocultos e também de
suas relações íntimas com o pensamento superior e divino.
O homem, espírito encarnado, esquecera seu verdadeiro
papel. Sepultado na matéria, ele perdia de vista os grandes horizontes
de seu destino; ele desdenhava os meios de desenvolver
seus recursos latentes, de se tornar mais feliz, tornando-se
melhor.
A nova revelação vem lembrar-lhe todas essas coisas.
Ela vem sacudir as almas adormecidas, estimular sua marcha,
provocar sua elevação. Ela clareia os recantos obscuros de nosso
ser, nos fala de nossas origens e de nossos fins, explica-nos o
passado pelo presente e nos abre um porvir que estamos livres
para fazer grande ou miserável, conforme nossos atos.
Leon Denis " O grande Enigma "
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