Olá,
Que é o progresso?
O progresso é a aspiração pelo melhor, pelo belo, pelo bem; é
a prova da existência em nós de um princípio superior, de
alguma coisa grandiosa, quase divina, que nos encaminha para
destinos mais altos, que nos lança sempre para frente, nos
domínios do pensamento e da consciência.
É essa força íntima e maravilhosa que distingue o homem do
animal, o sagrado rei do mundo, dominador da matéria.
Do ponto de vista social, o progresso é a caminhada para um
estado de coisas cada vez mais de acordo com a justiça e a razão;
é a aplicação, no seio das sociedades humanas, das leis, dos
princípios suscetíveis de realizarem nelas a
maior soma de
ordem, de bem-estar, de liberdade, de fraternidade, de aproximá-las
o mais possível do estado de perfeição.
Eis o que é o
progresso!
Há homens que consideram o progresso como uma lei fatal,
inevitável, como uma das leis cegas da natureza.
O homem,
dizem, progride em virtude da mesma força que faz uma
semente, lançada em um terreno favorável, transformar-se em
um carvalho.
Eu protesto contra uma tal doutrina que é a negação da
liberdade.
Sim, sem dúvida, o homem é um ser progressista,
perfectível por natureza.
Progredir é sua missão na Terra, é seu maior dever; é aí que
está a fonte de sua grandeza, de seu poder. Porém, antes de tudo,
o homem é livre, livre e responsável por seus atos.
O homem, fisicamente, materialmente, é como uma planta
que se desenvolve naturalmente, em virtude das leis universais;
porém, intelectualmente e moralmente, ele se cria por si mesmo.
É por uma longa série de esforços, de trabalhos e de buscas
que ele se torna no que é; é por suas relações com seus
semelhantes que ele cria a ordem social completa.
Sua elevação é, portanto, sua própria obra e eis por que ele se
pode mostrar orgulhoso por isso.
Aliás, se o progresso fosse fatal, seria contínuo e nada
poderia entravá-lo, criar-lhe obstáculo.
Não vemos, na História
do mundo, períodos de decadência e de abatimento se sucederem
a períodos de progresso e de civilização?
Não é por uma
caminhada contínua que a humanidade se fortifica, se esclarece e
cresce.
Não!... É através de vicissitudes sem número, de
alternativas de triunfo e de sofrimento, é sobre uma estrada
desigual onde as quedas são tão numerosas quanto as ascensões,
na qual encontramos, a cada passo, as marcas de seus pés
sangrentos.
O progresso é como o oceano, tem seus fluxos e seus
refluxos, suas marés altas e baixas, as quais abrangem períodos
às vezes seculares.
Suas ondas incontáveis assaltam as rochas e os escolhos,
reviram-nos e depois se estendem sobre imensas superfícies onde
jamais haviam penetrado; logo recuam, afastam-se e, em seu
movimento oposto, deixam descobertas várias praias.
Todavia
retornam um dia, mais formidáveis, invadindo novos espaços e
conquistando novos terrenos.
A História nos faz lembrar essas grandes fases do progresso.
As marés altas são a Grécia e Roma, a Reforma, a Revolução.
Os
refluxos terríveis e as marés baixas são a invasão dos bárbaros, a
tenebrosa Idade Média, os Impérios cheios de sombra e de
corrupção, que precederam a aurora de 1789.
Na hora em que estamos, uma nova ascensão se prepara para
nosso povo; a onda sobe, agiganta-se a olhos vistos.
Que possa ela elevar-se bem alto e varrer diante de si todos os
fantasmas do passado: preconceitos, ignorância e fanatismo, que
ainda se opõem à sua passagem.
Leon Denis " O Progresso"
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