Olá,
Em " Sabedoria do Evangelho", Pastorino, vem nos explicando a palavra de Mateus, Marcos e Lucas, sobre o que nos prejudica realmente.
Mat. 15:12-20
12.Aproximando-se então seus
discípulos, disseram-lhe:
"Sabes que os fariseus, ouvindo
o ensino, se escandalizaram”?
13. Mas ele respondendo, disse:
"toda planta que meu Pai
celestial não plantou, será
erradicada.
14. Deixai-os: são cegos, guias
de cegos; e se um cego guiar
outro cego, cairão ambos
no barranco".
15. Respondendo, disse Pedro:
"Explica-nos essa parábola".
16. Jesus então disse: "também
vós ainda não entendeis?
17. Não sabeis que tudo o que
entra pela boca, desce ao
ventre e é lançado no sanitário?
18. Mas tudo o que sai da boca,
vem do coração, e isto contamina
o homem.
19. Porque do coração vêm
pensamentos, homicídios,
adultérios, prostituições,
furtos, falsos testemunhos,
calúnias.
20. São estas coisas que contaminam
o homem; comer
sem lavar as mãos, não contamina
o homem".
Marc. 7:17-23
17. Tendo deixado a multidão,
entrou em casa, e seus discípulos
lhe perguntaram a
respeito da parábola.
18. Ele disse-lhes; "Assim
também vós não entendeis?
Não compreendeis que tudo
o que está fora do homem,
ao entrar nele não pode
contaminá-lo,
19. porque não entra no coração
dele mas no ventre, e é
lançado no sanitário"; (disse
isto) purificando todos os
alimentos.
20. E disse; "O que sai do homem,
isso contamina o homem,
21. porque de dentro do coração
dos homens procedem
os maus pensamentos, as
prostituições os furtos, os
homicídios,
22. os adultérios, as cobiças, as
malícias, o engano, a intemperança,
o mau olho, a
calúnia, a soberba e a loucura;
23. Todas essas coisas procedem
de dentro e contaminam
o homem".
Luc. 6:39
39. E falou-lhes uma parábola:
"Porventura pode um cego
guiar outro cego? Não cairão
ambos no barranco"?
Marcos completa Mateus, dando o pormenor de que Jesus se afastou da multidão e entrou em casa. E
aí, no aconchego dos íntimos, os discípulos aproximam-se para conversar.
O primeiro assunto é salientado só por Mateus . Revela-nos a sofreguidão com que os discípulos vão
ao Mestre, contando que "os fariseus se escandalizaram com o ensino dado".
Apesar de haver-lhes voltado as costas para dirigir-se à multidão, os escribas de Jerusalém e os fariseus
ficaram alertas para ouvir o que dizia o rabbi. E o que Ele disse causou-lhes arrepios de espanto:
nada menos do que uma ab-rogação total não apenas dos preceitos, mas da mesma lei mosaica, anulando
todo o extenso e complicado capítulo dos alimentos impuros!
Ora, isto lhes serviria às maravilhas,
para reforçar a acusação contra aquele jovem de trinta e seis anos, que pretendia sobrepor-se aos
"mais velhos", às autoridades, e até à lei de Moisés ... e isso sem ser nem mesmo rabino diplomado nas
escolas oficiais! Quem era ele para agir assim? perguntavam-se os emissários do Sinédrio.
Jesus, porém, afasta qualquer temor dos discípulos com uma sentença: "toda planta não plantada por
meu Pai será erradicada".
Alguns exegetas vêem nessa sentença uma referência direta àqueles fariseus
e escribas. Acreditamos mais lógico aplicá-la aos ensinos deles, às exigências humanas. Sendo "preceitos
de homens" (isto é, do intelecto personalístico), tendem a desaparecer, sendo erradicadas da humanidade,
porque não foram "plantadas pelo Pai" no coração os homens (individualidade), como o são
as leis naturais, que jamais desaparecerão da face da Terra.
Aos fariseus e escribas, pessoalmente, refere-se a segunda sentença: "deixai-os, pois são cegos (que
nada conhecem porque não enxergam) a guiar outros cegos". Que sucederá? "Cairão no barranco", isto
sim, acerta em cheio nas criaturas pretensiosas que, em sua ignorância enfatuada, se julgam donas da
verdade, ensinando, julgando e condenando, segundo bem lhes parece.
Depois desta resposta, em que o Mestre reduz às suas proporções reais os preceitos humanos rigoristas
e as autoridades que os exigem de seus fiéis, adianta-se Pedro para pedir que Jesus lhes explique o
sentido "da parábola" que havia proferido, escandalizando os emissários de Jerusalém. Na verdade,
trata-se de uma sentença enigmática, e não de uma parábola.
Inicialmente, Jesus sublinha sua estranheza por ver que seus discípulos mais chegados, após cerca de
um ano de íntima convivência com Ele, ainda não alcançaram o hábito de entender suas palavras. Emprega
o termo asúnetos, que significa "sem conhecimento interior", sem "inteligência (súnesis) para
compreender, já que o sentido literal e etimológico desse vocábulo exprime a junção (sun-esis) de duas
coisas em uma só, isto é, da coisa apresentada com a inteligência.
Depois explica-lhes que tudo o que de fora entra no homem (qualquer espécie de alimentação) desce
ao ventre e, após digerido, são os excrementos lançados ao vaso sanitário.
Logo, moralmente não podem
contaminar-lhes o espírito, pois só transitam pela matéria, pelo corpo físico.
A frase "purificando os alimentos todos" precisa, em nossa língua, de um esclarecimento, o que fizemos
acrescentando em grifo: "disse isto". A razão é que, em grego, não há ambigüidade, já que o particípio presente katharízôn se encontra no nominativo singular masculino, só podendo referir-se, portanto,
ao sujeito da oração "ele, Jesus"; de forma alguma poderia referir-se, nem lógica nem gramaticalmente,
ao aphedrôna (vaso sanitário), que é acusativo singular neutro. Se não acrescentássemos o
esclarecimento, na tradução portuguesa, o leitor teria a impressão de que o vaso sanitário é que purificaria
todos os alimentos.
E continua, dizendo que "o que sai do homem é que pode contaminá-lo", pois provém exatamente do
CORAÇÃO, isto é, da Mente, do Espírito (individualidade) que tem sede no coração (enquanto o "espírito", personalidade ou personagem, tem sede no intelecto, no cérebro). Mais uma vez Jesus afirma
essa verdade incontestável; e não podemos dizer que Ele ignorava a verdade real, sob pena de anularmos,
sob essa pecha, todos os sublimes ensinamentos que nos revelou. Nem é admissível se diga que
pactuava com a ignorância da época.
Podia utilizar imagens e palavras que facilitassem a compreensão
dos homens de então, mas afirmar uma mentira, uma irrealidade, uma falsidade, só para conformar-se
com a ignorância, não é coisa que um Mestre admita em seus ensinamentos.
A seguir são dados exemplos, enumerando alguns vícios que provêm do coração.
Em Mateus são classificados:
a) pensamentos: raciocínios maldosos (dialogísmoi ponêroí)
b) ações: homicídios (phônoi), adultérios (moicheía); prostituições (porneíai) e furtos (klópai)
c) palavras: falsos testemunhos (pseudomarturíai) calúnias (blasphêmíai).
Em Marcos verificamos que a divisão é diferente. Inicialmente são citados:
a) seis vícios no plural, referindo-se a pensamentos ou atos sucessivos, classificados como "raciocínios
maus" (dialogísmoi kakoí); são eles as prostituições (porneíai), os furtos (klópai), os homicídios
(phónoi), os adultérios (moicheíai), as cobiças (pleonecsíai) e as malícias (ponêríai)
b) seis no singular, manifestando mais exatamente seis tendências viciosas inatas, do caráter da criatura;
são elas: o engano (dólos), a insolência (grosseria, asélgeia), o olho mau (inveja, ophthalmós
ponêrós), a calúnia (blasphêmía), o orgulho desdenhador (huperêphanía) e a loucura (aphrosúnê).
Digno de notar-se: a palavra blasfêmia significa propriamente "palavras de mau agouro, proferidas
durante o sacrifício", ou "injúrias contra Deus" (cfr. nos Evangelhos: Mat. 12:31 e 26:65; Marc. 3:28 e
14:64; Luc. 5:21 e João 10:33; assim também o verbo "blasfemar": Mat. 9:3, 23:65 e 27:39; Marc. 2:7,
3:28-29 e 15:29; Luc. 12:10, 22:65 e 23:39; João 10:36 e Atos 13:45, 18:6 e 19:37). Somente neste
local, em Mateus e Marcos, apresentam mais logicamente o sentido de "calúnias".
Neste trecho encontramos duas respostas do Mestre.
A primeira refere-se ao "escândalo farisaico", que o Cristo manda não levar em consideração, por
duas razões:
1) Toda doutrina (planta) não inspirada (plantada) pelo Pai (Mente), mas apenas fruto dos intelectos
personalísticos, será cortada pela raiz e totalmente destruída. Constantes exemplos disso encontramos
na História, ao verificar as numerosas seitas e religiões que nascem, vivem certo período
(que pode ser de um, vinte ou cinquenta séculos) e depois desaparecem, mortas pela falta de raízes
espirituais. Todas as "doutrinas" que vêm de Deus (cfr. João, 5:44) permanecem: são plantas cujas
sementes foram lançadas pelo Pai e germinam, crescem, florescem e frutificam no coração dos
homens por toda a eternidade.
2) E também porque os homens, que criaram ou dirigem essas organizações humanas são, de fato,
cegos espirituais, que não penetram a verdadeira luz e nada vêem, a não ser a matéria e as coisas
espirituais (cfr. Mat.16:23 e Marc. 8:32). Ora, todos esses, mesmo se conduzirem milhões de
criaturas, mesmo que tenham boa-fé e convicção absoluta, "caem no barranco" com os seus guiados,
ou seja, voltam a reencarnar.
A diferença entre o ensino do Cristo e o dos homens é que o Mestre não fala em condenação ao inferno,
sem possibilidade de libertação posterior: de um "barranco", a criatura poderá sair, ainda que
machucada ...
Por ser uma explicação extensa, continuamos na próxima publicação.
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