Olá,
neste capítulo, vamos entender como prevenir o alcoolismo.
Livro:
A PREVENÇÃO DE DROGAS
À LUZ DA CIÊNCIA E DA DOUTRINA ESPÍRITA
REFLEXÕES PARA JOVENS E EDUCADORES
Rosa Maria Silvestre Santos
Pedagoga, psicopedagoga, psicodramatista, consultora de prevenção às drogas, co-dirigente do curso "Escolinha" de Pais.
Como prevenir o alcoolismo?
Através de um diagnóstico precoce, muito dificultado pelo
mecanismo mais usado pelo alcoolista e família chamado "negação".
A sociedade e a família são permissivas e condescendentes quanto ao
álcool. Fica difícil assumir que possuem alguém da família com o
alcoolismo, este diagnóstico sempre vem com um forte peso moral,
visto que desconhecem que o alcoolista possui uma doença.
Como detectar os primeiros sinais da doença?
Exige um preparo profissional e uma ação integrada de médicos,
enfermeiros, recursos humanos, assistentes sociais, chefes de seção...
ou outros profissionais que possam distinguir as repetidas queixas de
diarréia, gastrite, dor de cabeça, nervosismo, constantes abusos,
etc.
Qual a diferença entre alcoolismo masculino e feminino?
Alcoolismo é uma doença progressiva, mais lenta no homem
(aparece depois de uns 20 a 25 anos de uso) e mais rápido na mulher
(aparece após 5 a 10 anos de uso). Isto porque a mulher tem mais
células gordurosas do que o homem, este tem mais massa muscular.
A gordura atrai e retém mais líquidos e fica exposto mais tempo às
substâncias nocivas do álcool.
Há 15 anos atrás a porcentagem era de
1 mulher para 20 homens, hoje é de 1 mulher para 6 homens.
Como diferenciar o bebedor social do bebedor abusivo?
O comportamento de ambos é bem semelhante, ambos podem ou
não serem alcoolistas, mesmo que consigam ficar algum tempo sem
beber. A quantidade e a freqüência também pode ser semelhante, mas
para os autores Vespucci (1999), a diferença está na ressaca.
O
bebedor não alcóolico cuida da ressaca, toma água, alivia a dor de
cabeça e do estômago, evita com repulsa a bebida. Não permite que a
bebida interfira no seu modo de beber.
O alcoolista perde
progressivamente o controle sobre o álcool, sutilmente suas ações
passam a girar em torno da bebida, nem ele, nem a família se dão
conta. Ele procura curar a ressaca, quando as tem, bebendo um pouco
mais. Depois do porre, o dia seguinte é um novo namoro, pode
também ficar períodos prolongados de abstinência, semanas ou
meses, mas quando ingere, mata aquela "saudade", funciona como
muleta, a bebida alivia, tranqüiliza...
Existe cura?
Não há cura, o portador do alcoolismo pode deter a doença, mas
primeiro precisa aceitar que ela existe, depois conscientizar-se do
problema e praticar abstinência completa.
Quais as fases da doença?
A doença tem fases evolutivas:
1- Fase da adaptação: o organismo aprende a "funcionar a álcool"
2- Fase da tolerância: o organismo pede doses crescentes para
sentir os mesmos efeitos
3- Fase da dependência química.
Alguns autores classificam os alcoolistas, na fase da dependência
química, de acordo com seu grau de envolvimento com o álcool:
* Bebedor periódico: bebe grandes quantidades em pouco tempo e
depois passam meses sem beber.
* Bebedor discreto e silencioso: bebe quase diariamente,
regularmente
e quantidade relativamente pequena.
* Bebedor assumido: bebe sempre, muito e constantemente.
* Bebedor camuflado: bebe sempre, quantidade pequena, média ou
grande, mas raramente se embriaga.
Quais as etapas progressivas da doença?
1. Etapa do "beber social" cotidiano e noturno, mesmo um pequeno
drinque, uma lata de cerveja diária, é prenúncio de que o organismo
está dependente, precisa relaxar antes de dormir.
2. Etapa do "beber social" ao apagamento - bebe antes, durante e
depois do evento social, quando excede promete a si e aos outros
que vai se controlar. Começa a ter os primeiros apagamentos,
amnésias que o impede de lembrar o que fez na noite anterior.
3. Etapa intermediária: agravamento dos sintomas, busca
ambientes desconhecidos para beber sem fiscalização. Chega em
casa bêbado, com acentuado nervosismo, não sabe administrar as
emoções, usa da mentira com freqüência para evitar críticas.
Começa a tremer as mãos pela manhã, deteriorar as relações
profissionais e familiares e freqüentemente não consegue ir ao
trabalho às segundas-feiras.
4. Etapa final: morte, loucura ou recuperação. Sofre terríveis
síndromes de abstinência se ficar sem a bebida, sofre taquicardia,
sudoreses, convulsões, delirium tremuns... fica em desnutrição, cai
com freqüência, não tem higiene... entra em degradação física,
mental e emocional.
Onde termina o beber normal e começa o alcoolismo?
Esta é uma questão intrigante, saber onde termina o beber normal e
começa o alcoolismo.
Como afirma Jandira Masur, tentar responder a isso é o mesmo que
distinguir entre o rosa inicial até se transformar no vermelho, difícil é a
distinção do momento em que o rosa não é mais rosa. Existem sinais
óbvios para se saber quando é o vermelho: a pessoa perdeu o
emprego, a relação com a família está péssima, bebe pela manhã,
complicações orgânicas começam a surgir: gastrite alcoólica,
tremedeira nas mãos etc.
Descobrir quando o rosa não é mais rosa é bem mais difícil. Certos
critérios são aceitos por alguns autores, como: a quantidade e a
freqüência do álcool ingerido; se a pessoa bebe diariamente; se bebe
sozinho; se bebe a ponto de sofrer prejuízos físicos ou se chegou a
perder a liberdade sobre o ato de beber em detrimento de outras
coisas na vida familiar ou profissional.
O processo de transição de um estado moderado para a
dependência é longo, leva anos. Ninguém dorme bebendo
normalmente e acorda alcoolista . Utilizamos o termo alcoolista, ao
invés de alcóolatra, seguindo a mesma orientação dos autores de
"Alcoolismo Hoje", acreditamos que o dependente de álcool , usa-o por
necessidade e não por adorá-lo, visto que o sufixo "latra" indica
adoração.
O que leva ao alcoolismo?
O alcoolista começa a beber pelas mesmas razões que o não
alcoolista, isto é, pelo prazer que a bebida oferece. Porém uns bebem
moderadamente a vida toda, não se excedem e nem se embriagam,
devido, segundo alguns autores, ao próprio organismo que impõe
limites.
Outros não sentem atrativo nenhum pela bebida. Existem
aqueles que ficam fascinados pelo prazer de beber, permanecem
bebendo longos anos, até que a dependência se instala e problemas
sérios começam a surgir.
Qual a ação do álcool do ponto de vista médico?
De acordo com os médicos Dr. Otto Wolff e Dr. Walther Bühler,
observa-se no álcool 2 tipos de efeitos: um negativo e outro "positivo".
Sendo o álcool uma droga, é capaz de provocar sérios danos,
inclusive a morte, caso seja ingerido em excesso.
O fígado é o órgão mais lesado, pesquisas revelaram que "após a
ingestão de pequenas quantidades de álcool, mesmo um fígado sadio
apresenta lesões celulares...
A ingestão de quantidades maiores de
álcool (80-160 g. ou seja 1-2 litros diariamente, inevitavelmente produz
grave lesão do fígado após algum tempo" Wolff, Bulher (1987).
Os danos também podem se dirigir à arterioesclerose coronário
(riscos de infarto do miorcádio), neurites, etc. lesões que, no mínimo,
encurtam a vida humana e provocam moléstias crônicas.
Quanto ao efeito "positivo", muitos apreciam a sensação psíquica
agradável, a sensação de calor que estimula e ativa, a sensação de
uma aceleração do metabolismo e da circulação, o esquecimento das
preocupações. Após mais doses, esclarece os Drs. Wolff e Bulher
aparece o aumento da eloquência, do bom humor, mais uma dose, o
estado de alegria se transforma em excitação, diminui a capacidade do
pensamento, visão dupla, vertigens e embriaguez.
Qual o efeito espiritual do álcool?
Em poucas palavras, resumem os Drs. Wolff e Bulher, "o homem
perde-se a si mesmo".
"A estimulação, a alegria, o esquecimento das
preocupações são acompanhados por uma "crescente perda de
critério": a censura é desligada, a pessoa desinibe-se, faz e fala coisas
que não faria ou falaria se estivesse sóbria, ocorre um
"desencadeamento irrefreado de tendências inferiores e vis".
Na
realidade a pessoa não passa a beber para criar coragem, mas para
perder o controle de si, para deixar transparecer sua "natureza baixa".
Mesmo em pequenas doses ocorre uma diminuição da consciência
e uma incapacidade do espírito de agir no corpo.
Diz Rudolf Steiner
que "o álcool isola o homem de tudo o que é espiritual, luta contra a
atividade de nosso EU espiritual"
Não podemos subestimar o problema do alcoolismo, é uma doença
grave progressiva e incurável, cuja única saída será o tratamento e a
abstinência total.
Precisamos compreender que os danos físicos não
são tão eminentes, a não ser após a ingestão regular de quantidades
maiores, mas os efeitos sobre a estrutura espiritual e a personalidade
do ser humano são intensos, mesmo ingerindo-se pequenas
quantidades, o homem se desconecta do aspecto espiritual, perde-se
de si mesmo e provoca a decadência física e psíquica da sua
personalidade.
O uso do álcool na Antigüidade é diferente do uso atual?
O álcool é tão antigo quanto a humanidade, mas existem diferenças
fundamentais entre o passado e o presente. Antigamente as bebidas
tinham baixo teor alcóolico, os tempos eram outros, a estrutura do
homem antigo totalmente diferente do moderno, dizia Drs. Wolff e
Bülher que o álcool era até um fator positivo, dava o "peso terreno" que
faltavam aos antigos.
Afirmam eles que "do ponto de vista da humanidade, a missão do
álcool era retirar o homem de seu estado de consciência clarividente e
atavístico, e cortar-lhe a ligação direta e instintiva com as forças da
natureza e com o mundo espiritual. Este desligamento devia tornar o
homem mais terreno e promover a formação da personalidade.
Hoje,
no entanto, a ligação do homem com a terra é não somente suficiente,
mas, às vezes, excessiva, fato que se traduz no aparecimento de
certas doenças. Se esta tendência for reforçada constantemente pela
ingestão de àlcool (mesmo em quantidade pequena), teremos duas
conseqüências:
a promoção da predisposição a certas doenças e o
impedimento de um passo decisivo na evolução da humanidade.
O
homem precisa hoje reconquistar a ligação perdida com o mundo
espiritual. O álcool impossibilita esta reatação. O álcool é, hoje, um
inimigo da humanidade. O consumo regular do álcool é um herança do
passado, que precisa ser abandonada em prol do desenvolvimento do
eu humano em direção à individualidade criadora e livre".(Wolff e
Bülher, ob. cit.,p. 7)
Quais as conseqüências do alcoolismo?
O consumo de bebidas alcoólicas é um traço comum na nossa
sociedade. É bastante contraditório porque, se de um lado, traz a
aproximação fraterna entre as pessoas, de outro, provoca a destruição
do indivíduo e daqueles que o cercam, quando é levado ao excesso.
As conseqüências físicas na evolução do alcoolismo, mesmo
quando o indivíduo possui uma dieta normal, acarretam sérias
complicações orgânicas e mesmo desnutrição, porque existe um mau
aproveitamento dos alimentos ingeridos, além de problemas
digestivos, neurológicos, cardiovasculares, entre outros.
Além destas complicações físicas mencionadas acima, aparecem
pela ordem de frequência, respectivamente, os seguintes problemas
sociais: no trabalho; na família (cônjuge e filhos); financeiro; violência;
habitacionais; com amigos; previdenciários e legais.
De acordo com os Drs. Otto Wolff e Walther Bülher (1987) estas
conseqüências do alcoolismo independem do grau de envolvimento
com o álcool: "entre as seqüelas do alcoolismo crônico temos
alterações nervosas e doenças psíquicas muito variadas...sabemos
hoje que o consumo regular do álcool provoca alterações da
concepção espiritual, da atenção, da memória, retardamento do
pensar, perda da capacidade de crítica e juízo, assim como
irritabilidade, tristeza e estreitamento do campo de interesses...
Estas
alterações psíquicas são devidas em parte a autênticas lesões
cerebrais. São manifestações das lesões nervosas em geral,
produzidas pelo álcool, e que muitas vezes incluem também paralisias
e inflamações nervosas; Progredindo o alcoolismo, surgem finalmente
alucinações, isto é, ilusões sensoriais patológicas, e o "delirium
tremuns" quadro grave que requer tratamento em clínica psiquiátrica e
que se caracteriza principalmente pela desorientação, 7 a 8% dos
alcóolicos apresentam, aliás, crises epiléticas, que desaparecem com
a "cura" do alcoolismo.
Grifos meus.
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