quinta-feira, 10 de maio de 2012

SABEDORIA DO EVANGELHO - AS OFENSAS

AS OFENSAS

" Sabedoria do Evangelho "

 Mt. 5: 20-26 21. Ouvistes o que foi dito aos antigos: "não matarás" e "quem matar, estará sujeito ao julgamento". 22. Mas eu vos digo que todo o que se magoa contra seu irmão, estará sujeito a julgamento; e quem chamar seu irmão "tolo", estará sujeito ao tribunal; e quem chamá-lo “louco", estará sujeito ao vale dos gemidos de fogo. 23. Se estiveres, pois, apresentando tua oferta no altar e aí te lembrarás de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, 24. deixa ali tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão e depois vem apresentar tua oferta. 25. Sê benevolente depressa com teu adversário, enquanto estás no caminho com ele; para que não suceda que o adversário te entregue ao juiz, o juiz ao oficial de justiça, e sejas recolhido à prisão; 26. em verdade te digo, que não sairás dali até pagares o último centavo.



 Luc. 12: 54-59 54. Disse também à multidão: quando vedes aparecer uma nuvem no poente, logo dizeis que vem chuva, e assim acontece; 55. e quando vedes soprar o vento sul, dizes que haverá calor, e assim ocorre. 56. Hipócritas, sabeis distinguir o aspecto da terra e do céu; como então não distinguis esta época? 57. Por que não discernis também por vós mesmos o que é justo? 58. Quando pois vais com teu adversário ao magistrado, fazei o possível para, no caminho, te livrares dele; para que não suceda que ele te arraste ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e o oficial te lançará na prisão. 59. Digo-te que não sairás dali até pagares o último centavo. A partir deste ponto, encontramos a confirmação prática do sentido do versículo 17 deste capítulo, em que Jesus afirma "ter vindo para aperfeiçoar a lei".

 São cinco oposições entre as palavras da Torah e os ensinamentos mais elevados e rigorosos de Jesus. Onde, por exemplo, a lei proíbe apenas "matar", supondo-se digno de castigo só a interrupção da vida física, Jesus esclarece que o homicídio moral é tão ou mais grave do que aquele, e portanto passível de resgate doloroso. Para melhor esclarecimento do assunto, é feita uma divisão em três graus, caminhando-se do menor ao maior até o clímax, pois Jesus nem admite, sequer, a hipótese de homicídio físico.

 1.º o desgosto ou mágoa, correspondente ao grego horgizómenos, que é simples movimento íntimo de ressentimento, sem repercussão nenhuma exterior;

2.º o aborrecimento que se exterioriza numa injúria, embora leve, chamando-se a criatura de "tola" (em hebraico "raca", isto é reiga, ou reigah, que significa "cabeça ôca"), numa demonstração de desprezo;

3.º a zanga que se exterioriza com uma ofensa grave e caluniosa, em que se classifica a pessoa de "louca" (hebraico "moreh", grego môrós), com isso causando prejuízos morais graves, pelo desprestígio de irresponsabilidade a ela atribuída sem base na verdade dos fatos.

 A cada uma dessas gradações corresponde um tipo diferente de condenação:

 1.º - sujeito a julgamento simples;

 2.º - sujeito a julgamento do Sinédrio (da autoridade);

3.º - sujeito ao "vale dos gemidos", para ser purificado pelo fogo. Quanto à palavra "geena", que traduzimos por "vale dos gemidos", nós a explicaremos no fim deste capítulo.

Compreendemos assim que:

 1.º - quem se magoa, permanecendo ressentido sem perdoar (sem esquecer a ofensa), embora fique calado, perde a sintonia interna com Deus que é Amor; como, porém, o movimenta é puramente íntimo, ele é culpado perante sua consciência apenas, estando sujeito ao resgate de um carma estritamente pessoal;

2.º - quem se ofende com algo e se destempera, dando ao adversário epítetos de desprezo (tolo, cabeça ôca), fica inculpado perante o tribunal da comunidade (sinédrio), porque adquiriu carma grupal, já que sua ação feriu outra pessoa;

3.º - quem se ofende e, exteriorizando sua ira, atribui ao adversário epítetos caluniosos (louco, maluco), se torna culpado perante o tribunal geral, porque a calúnia espalhada não mais pode ser desfeita, e o prejuízo causado não consegue ser remediado; foi, pois, adquirido carma coletivo, sendo ele o respons ável pelo que disse, pelos prejuízos que causou, e por todos os julgamentos errôneos daqueles que o ouviram e nele acreditaram.

Esse carma coletivo, para ser resgatado, tem que passar pelo fogo permanente das dores, que jamais se apaga no "vale dos gemidos" (o planeta Terra, também chamado "vale de lágrimas").

 Os versículos seguintes contêm uma hipérbole para demonstrar a superioridade do amor. Figura Jesus estar já alguém no altar, a oferecer sua oblata, quando se recorda de que seu irmão tem uma queixa contra ele. Para salientar quanto o amor é superior aos sacrifícios (cfr. Os. 6: 6), diz Jesus que deixe ali sua oferta e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão. Mostra-nos isso que a adoração e mesmo a ora- ção não têm efeito, se não estamos vibrando na frequência do amor.

Por isso continua ensinando-nos que jamais devemos levar nossas questões diante dos tribunais, para reclamar nossos direitos ("onde começa o direito, acaba o amor", escreveu Pietro Ubaldi). Nem devemos permitir que alguém vá aos tribunais contra nós: reconciliemo-nos, ainda que perdendo aparentemente, pois o lucro espiritual será demais compensador. Se alguém tem queixa, vamos a ele e cedamos tudo, contanto que mantenhamos nossa paz na sintonia do amor. Olhando sob o ponto de vista espiritual, é melhor reconciliar-nos "enquanto estamos no caminho com ele".

A expressão "no caminho" exprime claramente o que hoje diríamos "enquanto estamos reencarnados com ele na Terra". Baste confrontar: "Sabemos que se a nossa casa terrestre desta tenda de viagem for desfeita temos de Deus um edifício, casa dão feita por mãos, eterna, nos céus” (2 Cor. 5:1); "

Andai com sabedoria com os que estão de fora, remindo o tempo  " (Col. 4:5);

"exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama hoje" (Heb. 3:13);

"se invocais como Pai Aquele que, sem se deixar levar de respeitos humanos, julga segundo a obra de cada um, vivei sem temor durante o tempo de vossa peregrinação" (1 Pe. 1:17);

"tenho por justo, enquanto estou nesta tenda de viagem, despertar-vos com recordações, sabendo que brevemente hei de deixar esta tenda de viagem" (2 Pe. 1:13-14);

 e ainda, embora mais veladamente 2 Cor. 3:12-18 e 6:1-3; Heb. 4:1-3; 8:7; 12:11-13; 1 Pe. 5:9.


 Além disso, a própria denominação da comunidade dos cristãos nos primeiros tempos (os mais legítimos porque mais próximos à fonte) confirma esta interpretação, pois eles se classificavam como "os do Caminho" (cfr. At. 9:2); só mais tarde, em Antióquia, passaram a ser conhecidos como "crist ãos", isto é, seguidores de Cristo.

Tudo isso - vem a advertência muito séria e severa - para que não sejamos entregues ao juiz (nossa consciência liberta, nosso Eu profundo) que nos manterá "na prisão", ou seja, no corpo (nas sucessivas  encarnações), das quais não nos libertaremos enquanto não tivermos pago o último centavo. Enquanto não for resgatado todo o carma, não sairemos da roda das reencarnações, a que os hebreus chamava gilgal e os hindus samsara.

O texto de Lucas aparece em outro contexto, mas o ensinamento é o mesmo. O exemplo é tirado da facilidade que tem o povo de conhecer com antecedência o tempo que haverá. A nuvem no poente denota chuva e o vento do sul (realmente do sudoeste, o siroco, em grego notos traz o calor do norte africano. No entanto, não sabem conhecer a vida espiritual.

Vem depois a mesma advertência que em Mateus, a respeito da reconciliação com os adversários, enquanto encarnados com eles. Sabemos que os adversários reencarnam, quase sempre, como parentes próximos, afim de que a reconciliação seja mais fácil pelas ligações sanguíneas. A aproximação dos adversários na reencarnação, como pais, filhos, irmãos é automática: o ódio une tanto quanto o amor, porque o pensamento de quem odeia, como o de quem ama, se fixa morbidamente nos seres amados ou odiados; e sabemos que o pensamento é força que une sintonicamente. Disso se prevalece a Lei para provocar as reconciliações, enquanto os seres estão com o véu do esquecimento a recobrir as causas desse ódio passado.

A individualidade esclarece bem as personalidades, de que o estado atual em que se encontram é um simples e ilusório percurso de viagem, e que não convém brigar durante esse caminho transitório. Muito ao contrário: deve ser aproveitada essa caminhada rápida para uma reconciliação plena com todos os adversários, enquanto o olvido das causas nos amortece a dor dos efeitos. Quem não souber valer-se desse ensejo e, ao revés, continuar a alimentar separações e contendas, aumentando os débitos, permanecerá na prisão até resgatar seu carma de modo integral. Então, avisa a individualidade às criaturas: sejam inteligentes, espertas.

Aprendam a conhecer o resultado das ações, assim como já perceberam a constância dos sinais que precedem as chuvas e o calor. No trecho, aprendemos, outrossim, que o ciclo reencarnatório é, como dizia Platão, um "ciclo fatal" (kyklos ananke) que nos prende como em cadeias, até ser cobrado o último centavo. A Lei é inflexível e não há preces nem devoções que o diminuam. A "Misericórdia" manifesta-se de outro modo: é dando- nos oportunidades novas e repetidas, de realizarmos pagamentos, isto é, concedendo-nos novas encarnações (cfr. Pietro Ubaldi, "Queda e Salvação", pág. 61).

 O único meio de resgatarmos mais depressa é dedicar-nos ao serviço, por amor ao próximo. Daí a pregação intensa que é feita do valor da "caridade" ("Fora da caridade não há salvação", escreveu A. Kardec).

GEENA A palavra geena que aparece nas traduções vulgares do Evangelho, e que traduzimos por "vale dos gemidos", É, empregada sete (7) vezes em Mateus (5:22, 29, 30; 10:28: 18:9; 23:15, 33); três (3) vezes em Marcos (9:43,45,47); uma vez em Lucas (12:5) e uma vez em Tiago (3:6). Nunca a encontramos em João nem em Paulo. Nome antiquíssimo, já aparece no Velho Testamento desde Josué. São três as formas de empregá-lo: a) gê ben Hinnom (vale do filho de Hinnom) em Josué 15: 8a: 18. 16a: 2.º Crôn. 28:3; 33:6; Jer. 7:31, 32: 19:2, 6; e 32 :35. b) gê benê Hinnom (vale dos filhas de Hinnom) em 2.° Sam. 23: 10. c) gé Hinnom (vale de Hinnom) em Josué 15.8b; 18.16b e Neemias 11:30. Era tão conhecido, que Jeremias se limita, em 2:23, a chamá-lo "o vale" (haggê).

 Quanto ao significado da palavra Hinnom há discussão. Afasta-se, de modo geral, a hipótese de um nome próprio, pois jamais se conheceu alguém com esse apelativo. O sentido mais aceito para esse

C. TORRES PASTORINO

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