terça-feira, 8 de maio de 2012

SABEDORIA DO EVANGELHO - AS BEM AVENNTURASNÇAS

 Olá,


Carlos Torres Pastorino,
em “Sabedoria do Evangelho”
traz explicação e interpretação de textos dos Evangelhos.

Veja quantos esclarecimento neste texto.


O SERMÃO DO MONTE

AS BEM AVENTURANÇAS


Mat. 5:31 a 42
31. Vendo Jesus a multidão, subiu ao monte; e depois de sentar-se, aproximaram-se dele seus discípulos, 32. e, abrindo a boca, ele lhes ensinava, dizendo:33. felizes os mendigos do Espírito, porque deles é o reino dos céus; 34. felizes os que choram, porque serão consolados; 35. felizes os mansos, porque eles herdarão a Terra; 36. felizes os famintos e sequiosos de perfeição, porque eles serão satisfeitos; 37. felizes os misericordiosos, porque eles obterão misericórdia; 38. felizes os limpos de coração, porque eles verão Deus; 39. felizes os pacificadores, porque eles serão chamados Filhos de Deus. 40. Felizes os que forem perseguidos por causa da perfeição, porque deles é o reino dos céus. 41. Felizes sois, quando vos injuriarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós minha causa; 42. alegrai-vos e exultai, porque é grande vosso prêmio nos céus, pois assim perseguiram aos profetas que existiram antes de vós.

Luc- 6:20 a 26
20. E tendo erguido os olhos para seus discípulos, disse: felizes os pobres, porque vosso é o reino de Deus 21. Felizes os que agora tendes fome, porque sereis fartos. Felizes os que agora chorais, porque rireis. 22. Felizes sois, quando os homens vos odiarem e quando vos excomungarem, vos ultrajarem e rejeitarem vosso nome como indigno, por causa do Filho do Homem 23. alegrai-vos e exultai nesse dia, pois grande é vosso prêmio no céu, porque assim seus pais fizeram aos profetas. 24. Mas ai de vós que sois ricos, porque já recebestes vossa consolação. 25. Ai de vós os que agora estais fartos, porque tereis fome. Ai de vós, os que agora rides, porque haveis de lamentar-vos e chorar, 26. Ai de vós quando vos louvarem os homens, porque assim seus pais fizeram aos falsos profetas.


Penetramos, agora, num capítulo da Boa Nova, que todo cristão deveria ler, de joelhos, diariamente, vivendo-o intensamente. Constitui um dos mais perfeitos, elevados e completos cursos de iniciação profunda. Se todos os livros de espiritualidade do mundo se perdessem, mas restasse apenas este trechos, bastaria ele para levar as criaturas à perfeição mais extremada, ao adeptado mais avançado, levando-nos - se vivido integralmente - à libertação total dos ciclos reencarnatórios.

Diz-nos Mateus que Jesus "subiu ao monte" e lá falou: é a tradição de Jerusalém. Lucas, tradição de Antióquia, afirma que Jesus "desceu da montanha a um lugar plano" e aí ensinou o Contradição apenas
aparente.

Lucas dá-nos os pormenores, que Mateus resume. E absolutamente não se diz, no 3.º Evangelho, que Jesus desceu à planície mas apenas a "um lugar plano", provavelmente na encosta do monte ainda, onde deparou a multidão que o esperava. Atendeu-a, e depois falou.

O sentido profundo justifica plenamente as duas escrituras. Em Mateus, onde todo o discurso é dado seguidamente, Jesus fala no monte, elevadamente, para as individualidades, ao Espírito. Em Lucas, dirige-se Jesus às personalidades, facilita Seu ensino, DESCE a "um lugar plano". Observamos que as bem-aventuranças em Lucas se referem ao plano físico: os pobres, os que choram, os que têm fome, que sentem essas angústias na carne, no corpo denso, e o Mestre se refere exatamente à pobreza de dinheiro, às lágrimas das dores, à fome de comida. E logo a seguir, condena os ricos, os que estão
fartos, os que riem, tudo na parte material,

Mateus.

Este dá-nos a parte espiritual, com elevação (monte) extraterrena: cada um interpreta o ensinamento segundo seu diferente ponto de vista:

Mateus, segundo o Espírito, segundo a individualidade;
Lucas segundo o corpo, a personalidade.

LUCAS
Lucas apresenta-nos quatro bem-aventuranças e quatro condenações em paralelo, visando unicamente à personalidade humana em suas vidas sucessivas. Sabemos, com efeito, que, de modo geral, as encarnações oferecem alternância de situações:os ricos renascem pobres, e vice-versa (cfr. 1 Sam.2:7-8), os caluniados renascem louvados e vice-versa. Essa idéia foi bem apreendida por Lucas, quando transcreveu em seu Evangelho o Cântico de Maria (Lc. 1: 52-53).

Que não se referia a esta mesma vida de um só transcurso está claro, porque em uma mesma existência não se dão, absolutamente, tais transformações.
E também não podia referir-se à vida "celestial" de um paraíso ou "céu"
de espíritos, porque, uma vez lá, ninguém pensará em fartar-se de iguarias para vingar-se da fome que aqui passou; e mesmo que aqui se tenha fartado, não ligará a menor importância à falta de alimentos físicos, desnecessários ao espírito.
Logo, a única conclusão lógica aceitável racionalmente
é a recompensa ou castigo que nos virão NESTA MESMA TERRA, numa vida posterior,com um corpo novo. E o ambiente antioqueno, todo ele reencarnacionista, compreenderia bem essas realidades.

As quatro oposições são as seguintes:
1) Felizes vós os mendigos, porque vosso é o reino de Deus.
Ai de vós os ricos, porque já fostes consolados.

2) Felizes vós que tendes fome sereis fartos.
Ai de vós os fartos, porque tereis fome.

3) Felizes vós que chorais, porque rireis .
Ai de vós que rides, porque chorareis .

4) Felizes quando fordes perseguidos, porque assim fizeram aos profetas
Ai de vós quando vos louvarem porque assim fizeram aos falsos-profetas.

Se não entendêramos o sentido real da reencarnação, teríamos nesse resumo uma tirada demagógica, para conquistar simpatizantes e adeptos, pois são declarados felizes exatamente os da massa explorada e escravizada, enaltecendo-se como coisas ótimas a pobreza, a fome, a dor (doença) e a rejeição dos homens. E as ameaças atingem precisamente os elementos exploradores e gozadores: os ricos, os de mesa farta, os alegres (sadios) e os famosos.

De qualquer maneira, é uma versão personalística expressa para aqueles que ainda se apegam a seu eu pequenino e passageiro, julgando-o seu Eu real.
É uma consolação interesseira, para aqueles que ainda dão valor ao que é externo a si mesmos: o consolo dos outros, a posse dos bens materiais ou não, uma boa mesa, e os elogios dos homens.
Para Lucas, neste passo, Deus é a Lei Justiceira que premia e pune, que dá e tira, tal como O concebem as personalidades presas ao transitório irreal de um mundo passageiro, do qual eles se acreditam "partes integrantes".

Personalidades que ainda não se libertaram do apego à Terra, às condições exteriores de bem-estar financeiro, físico, emocional ou de apoio das outras criaturas.
Acredite ou não na reencarnação, a massa humana se encontra nesse estágio e busca ansiosamente essas mesmas coisas, por todos os meios, materiais e espirituais. Nada interessa ao rebanho senão, em primeiro lugar a saúde, depois o dinheiro para viver, a seguir a tranquilidade emocional (amores) e
enfim a "boa cotação" na opinião pública. Esses são os pedidos mais frequentes e angustiosos, feitos nas preces dos crentes de todas as religiões.


MATEUS
Muito diferentes as palavras de Mateus. Transcrevendo os ensinamentos profundos de Jesus, relativos à individualidade - que não dá a menor importância a coisa alguma que venha de fora, que seja externo, quem presta a mínima atenção ao que dizem "os outros".

Os exegetas e hermeneutas buscam o número 7 nas bem-aventuranças, não conseguindo reduzi-las a esse número, nem mesmo reunindo duas em uma. Mas, realmente, as bem-aventuranças são apenas 7,
já que as duas últimas vezes em que aparece a palavra "bem-aventurados" (felizes), estão fora da série, tratam de coisas externas, que não dependem da evolução interna da criatura. As sete primeiras referem- se à evolução do homem, as duas últimas são acidentes que podem ocorrer e que também podem não ocorrer, o que nada tira nem acrescenta à evolução do indivíduo: representam elas provações exteriores, que experimentam e provam a legitimidade da evolução genuína.


PRIMEIRA -  O primeiro elemento, ptôchos, significa exatamente "aquele que caminha humilde a mendigar". Sua construção normal com acusativo de relação poderia significar o que costumam dar as traduções correntes: "mendigos (pobres, humildes) no (quanto ao) espírito".

Após havermos considerado numerosas traduções, aceitamos a que propôs José de Oiticica. MENDIGOS DE ESPÍRITO, por ser mais conforme ao original grego, e por ser a mais lógica e racional; pois realmente são felizes aqueles que mendigam o Espírito; aqueles que, algemados ainda no cárcere da carne, buscam espiritualizar-se por todos os meios ao seu alcance, pedem, imploram, mendigam esse Espírito que neles reside, mas que tão oculto se acha.


SEGUNDA - Felizes os que choram, ansiosos em obter esse Espírito, embora presos às sensações. E choram porque sentem a dificuldade de libertar-se das provações e tentações a que os sentidos os arrastam.
Não se trata de chorar por chorar, que isso de nada adiantaria à evolução. Fora assim, os que vivem a lamentar-se da vida seriam os mais perfeitos ... e aqueles que criam doenças e males imaginários, levados pela autocompaixão, para sobre si atraírem alheias atenções, palavras de conforto, estariam como
elevados na linha evolutiva ... Nada disso: as lágrimas enchem os olhos e sobretudo o coração diante do próprio atraso, diante da verificação de quanto ainda somos involuídos.
E isso trar-nos-á a consolação de ver-nos finalmente libertados.
Não podemos admitir más interpretações em textos de tão alta espiritualidade, que trazem incontestável clareza na exposição de seu pensamento.


TERCEIRA - Salienta-se, a seguir, a mansidão ou humildade. a paciência ou doçura (pralís); e aos que assim forem é prometida, como herança, a Terra.
Já dizia Davi (Salmo 37: 11) "os mansos herdarão a Terra e se deleitarão na abundância da paz".
E mais tarde Isaías (65:9) "meus escolhidos herdarão a Terra e meus servos nela habitarão".
Provérbios (2:21-22) se diz: "porque os homens retos habitarão a Terra e os íntegros nela permanecerão; mas os ímpios serão suprimidos da Terra e os pérfidos dela serão arrancados".

Há, pois, uma constante no pensamento do Antigo e do Novo Testamentos, nesse sentido:
a Terra será o prêmio dos justos, que aí encontrarão a paz perfeita. Não se fala em herdar o "céu", no sentido moderno, mas A TERRA (tên gên), sem a menor possibilidade de interpretações malabaristas.
Que prêmio será esse?
 Será o apego à personalidade? ao corpo físico e às coisas físicas? Cremos que não.

Não é, evidentemente, nesta nossa vida atual, em pleno pólo negativo; mas num renascimento futuro ou, como disse Jesus textualmente, na reencarnação - en têi paliggenesía -,
quando o Filho do Homem se sentar em seu trono de glória (Mat. 19-28).
A Terra, este mesmo planeta, transformado em planeta de paz (depois que dele tiverem sido expulsos todos os que buscam e causam guerras), conservará como seus habitantes, na evolução, aqueles que,
com ela, tiverem também evoluído por meio da mansidão, da paciência, da doçura e da humildade.

QUARTA - Nesta bem-aventurança fala-se dos famintos e sequiosos de perfeição. Geralmente dikaiosúnê é traduzido por "justiça".
Essa palavra, entretanto, permite uma incompreensão que falsearia o sentido original: como podem ser louvados os que exigem justiça, se logo após são ditos felizes os misericordiosos ?
Uma coisa exclui a outra: ou justiça, ou misericórdia! Como teria podido Jesus contradizer-se a tão curto intervalo ? Há de haver algum engano. Ora, realmente o termo grego dikaiosúnê é derivado de dikaios, que exprime precisamente .
O observador da regra, o justo, o reto, o honesto, ou, numa expressão mais exata ainda "o que se adapta às regras e conveniências", pois o termo primitivo dikê, donde todos os outros derivaram, significa REGRA.
Compreendemos, então, que o sentido (para coadunar-se com a bem-aventurança seguinte) só pode referir-se aos que aspiram ardente e sequiosamente à PERFEIÇÃO, ao AJUSTAMENTO de si mesmos
às Leis divinas. Então é justiça no sentido de JUSTEZA (tal como o francês justice, no sentido de JUSTESSE).
Esses que são famintos desse ajustamento, hão de ser saciados em suas aspirações ardentes.


QUINTA - Nesta quinta, fala Jesus dos misericordiosos, daqueles que, segundo Paulo (Col- 3: 12)
"se revestem das entranhas da misericórdia". É o oposto da "justiça". É o SERVIÇO no sentido mais amplo.O serviço de quem se compadece daquele que erra, porque nele não vê maldade: vê apenas ignorância e infantilidade.
Esses obterão misericórdia, porque sabem distribuir servindo sempre, sem jamais cogitar de merecimentos ou prêmios. É a misericórdia que tudo entrega à Vontade do Pai, e vai distribuindo bênção a mancheias sobre todos, indistintamente, incondicionalmente, ilimitadamente, amorosamente.


SEXTA - Fala-nos esta da limpeza do coração. Muitos interpretam-na como limpeza ou pureza no sentido de castidade, de nãocontato sexual, atribuindo, a um acidente secundário, uma condição fundamental.
Não é isso: é pureza e limpeza no sentido de renúncia, de ausência total de apego, de nudez,porque nada possuímos de nosso: tudo pertence ao Pai, e nos é concedido por empréstimo temporário
("nada trouxemos para este mundo, e nada poderemos dele levar", 1 Tim. 6:7); estamos limpos, estamos livres, estamos nus de posses, de apegos, e até mesmo de desejos, desligados inclusive de nossa própria personalidade.

A palavra Katharós tem um significado bem claro em grego: é tudo aquilo que é puro por não ter mistura, que é isento, desembaraçado, livre, limpo de qualquer agregação.
A expressão Katharoí têi Kardíai já aparece no Salmo 24:4 (que também traz o adjunto em dativo) e aí
aparece no seguinte sentido: "quem subirá ao monte de YHVW e quem estará no santo lugar"? ou seja, "quem obterá a realização elevada do encontro com o Cristo"? e a resposta diz: "aquele que é inocente (sem culpa) nas mãos (nos atos) e LIMPO DE CORAÇÃO", isto é, que em seus atos (mãos) e pensamentos (coração) não tem apego nem culpa, que não trai o amor de Deus (individualidades), desviando-o para amar as personalidades externas, passageiras e enganosas.

Essa mesma expressão é usada por Platão, no diálogo Crátilo (405 b), de que traduziremos o texto: "a purgação e a limpeza, seja da medicina seja da mediunidade, as fumigações de enxofre, seja por drogas medicinais ou por mediunismo, e também os banhos desse tipo e as aspersões, tudo isso tem um só e único poder: tornar o homem limpo, quer seja do corpo, quer seja de alma (Katharós katà sôma tò kai katà tên psuchén) ...
Assim, esse espírito é o limpador, o lavador e libertador de semelhantes sujeiras (ou agregações que enfeiam)".
Nada se acena à castidade nem ao sexo, cuja união é uma ordem taxativa de Deus e da Natureza, sem o qual a obra divina não sobreviveria; logo é um ato SANTO e PURO.
Esses, que se libertaram até do eu pequenino, verão Deus (futuro de horáô), que é VER não só física, mas sobretudo espiritualmente: sentir, experimentar.

SÉTIMA - Ensina-nos a respeito dos pacificadores, ou, literalmente, dos "fazedores de paz", eirênopoiós (substantivo que é um hapax na Bíblia);
trata-se daquele que não somente TEM a paz, como também a distribui com suas vibrações de amor.
Esses serão chamados, porque realmente o são, Filhos de Deus, desse "Deus de Paz" de que nos fala Paulo (2 Cor.13:11), isto é, atingiram não apenas o encontro com o Cristo, mas a unificação permanente com Deus.

Deixe seu comentário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário