Olá,
Mat. 16:5-12
5. " Indo seus discípulos para o outro lado, esqueceram-
se de levar pão.
6. Disse-lhes Jesus: "Olhai: guardai-vos do
fermento dos fariseus e dos saduceus".
7. Eles, porém, dialogavam entre si dizendo:
"É porque não trouxemos pão".
8. Percebendo-o Jesus, prosseguiu: "Por que
estais discorrendo entre vós, homens de pequena
fé, por não terdes pão?
9. Não compreendeis ainda, nem vos lembrais
dos cinco pães para cinco mil homens e
quantos cestos apanhastes?
10. Nem dos sete pães para quatro mil, e quantas
cestas recolhestes?
11. Como não compreendeis que não vos falei a
respeito de pão, mas: Guardai-vos do fermento
dos fariseus e dos saduceus"?
12. Então entenderam que lhes não dissera que
se guardassem do fermento do pão, mas do
ensinamento dos fariseus e dos saduceus. "
Marc. 8: 14-21
14. " E esqueceram-se os discípulos de levar pão;
e não tinham consigo no barco senão um só
pão.
15. E preceituava-lhes, dizendo: "Olhai: guardai-
vos do fermento dos fariseus e do fermento
de Herodes".
16. Eles racionavam entre si, dizendo: "É porque
não temos pão".
17. Percebendo-o Jesus, lhes perguntou: "Por
que discorreis por não terdes pão? Não
compreendeis ainda, nem entendeis? Tendes
vosso coração endurecido?
18. Tendo olhos, não vedes? e tendo ouvidos,
não ouvis? e não vos lembrais de
19. quando parti os cinco pães para cinco mil,
quantos cestos cheios de pedaços apanhastes"?
Disseram-lhe: "Doze".
20. "E quando parti os sete para quatro mil,
quantas cestas cheias de fragmentos recolhestes"?
Disseram: "Sete".
21. E disse-lhes: "Ainda não entendeis"?
O episódio que se desenrola, todo natural e cheio de vivacidade, é um instantâneo da vida, com seus
esquecimentos inevitáveis e suas confusões.
Ao embarcar, os discípulos esqueceram de prevenir-se com provisões de boca.
Lembra-se Marcos de
que tinham apenas um pão, pois Pedro lhe frisara bem esse ponto. E isso talvez preocupasse os discípulos desde o início da travessia.
Ora. de seu travesseiro de couro, à popa, o Mestre ergue a voz máscula, embora repassada de doçura,
para dar-lhes um aviso, precedido de uma interjeição:
"Olhai! Cuidado com o fermento dos fariseus e
saduceus" (em Marcos: "dos fariseus e de Herodes").
Diante disso, eles extravasam a angústia represada:
"Pronto! é porque esquecemos os pães"! ... E quem
sabe principia urna discussão entre eles, buscando qual o "culpado" ...
Mas Jesus interrompe-os com entonação de tristeza e desilusão na voz. Mais uma vez fora mal interpretado:
seu ensino era espiritual, não material. Que importava o pão físico? Então já haviam esquecido
as duas multiplicações?
E aqui vem a comprovação da realidade de ambas, citadas separadamente,
com os pormenores salientados, numa vivacidade natural: quantos cestos apanhastes quando cinco mil
foram saciados com cinco pães? E quantas cestas, quando quatro mil o tornam com sete?
A expressão "ter olhos e não ver" ... é bíblica (cfr Jer. 5:21; Ex. 12:2; Salmo 115:5 e 135:16), salientando
a decepção causada ao Mestre pelos próprios discípulos, que com Ele conviviam há bastante
tempo, e que não percebiam ainda o sentido oculto. Era uma desilusão forte, após a outra sofrida na
aula dada na sinagoga de Cafarnaum (João, 6:66; vol. 3.º).
Parece então que foi percebido, como anota Mateus: o fermento, elemento corruptor (tanto que era
proibido colocá-lo no pão utilizado na Páscoa e no das oblatas, Lev. 2:11) era a hipocrisia (Luc. 12:2)
e outros graves defeitos citados em vários pontos do Evangelho, mas sobretudo em Mat. 23: 1-7.
A lição da individualidade chega-nos com frequência à personalidade física. Mas esta, envolvida pela
materialidade que a circunda, não entende os sussurros silenciosos de advertência que lhe são feitos,
e quase sempre os interpreta viciosamente, atribuindo aos avisos espirituais sentido material. Por
vezes, mesmo, há amigos desencarnados que se encarregam de advertir-nos. No entanto, queixamonos
de que "não são claros nem objetivos", porque não os ouvimos com os ouvidos espirituais, mas
apenas com os materiais ... eles querem facilitar-nos a compreensão, mas temos os olhos da mente
vedados!
As palavras do Espírito só podem tratar de aspectos espirituais.
Todavia, o aviso é oportuno: cuidado com os fariseus (os hipócritas intelectuais), com os saduceus (os
materialistas agnósticos) e os herodianos (os que se prendem aos gozos dos sentidos), porque eles,
que de todos os lados nos cercam, acabam permeando-nos com suas doutrinas e agindo como o fermento:
fazendo-nos inchar toda a massa, corrompendo-a.
O sentido espiritual se deduz da letra, única que pode chegar até nós através do intelecto. E que o
sentido da palavra deva ser percebido em todas as minúcias, vemo-lo num pormenor que parece insignificante:
ao relembrar as duas multiplicações, o Mestre sublinha os termos utilizados em cada
uma, distinguindo que, na primeira, os fragmentos foram recolhidos em cestos (kophínos) e na segunda
em cestas (spurídas), recipientes maiores.
Não há confusão possível.
O espiritualista está cercado de doutrinas exóticas e facilmente deixa-se penetrar por elas sem sentir.
Quando abrir os olhos, verificará que saiu da renda reta despercebidamente. Cuidado! O pão sobressubstancial
é simples, sem fermentos de grandezas, sem exterioridades, sem misturas: é sincero (no
sentido etimológico, "sem mistura"), não hipócrita, não fariseu; é espiritual, sem materialidade nem
agnosticismo, não saduceu; e não busca prazeres físicos dos sentidos, é não herodiano."
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